"A vida é uma comédia escrita por um comediante sádico." (Café Society)
Há algo de extremamente confortador em recostar-se na poltrona do cinema e ouvir o familiar som de jazz na introdução sem malabarismos visuais de um filme de Woody Allen.
É ainda mais confortador ouvir a sua inconfundível voz narradora ao fundo, com a entonação típica dos grandes contadores de histórias, enquanto romances e comédias e tragédias e sátiras e críticas costuram um enredo improvável.
Café Society reúne de forma harmônica o que há de mais característico na extensa obra do diretor ainda tão produtivo aos 80 anos: amor pelo cinema, amor pelo amor, crítica social ácida, herança judaica e angústias existenciais.
A ambientação no glamour dos anos 30 é perfeita para homenagear a época de ouro de Hollywood! E não faltam referências como Barbara Stanwick, Gloria Swanson, Um Lugar ao Sol, Casablanca, para citar apenas algumas. Figurino e cenários que encantam e primam pela estética cuidadosa e elegante!
O romance é a linha condutora do filme, através do triângulo amoroso que alterna as ilusões e desilusões do amor. Escolhas. Boas e más. E como essas mesmas ilusões e desilusões sustentam as consequências dessas boas ou más escolhas.
As críticas sociais, cínicas e ácidas, denunciam, no melhor estilo F.Scott Fitzgerald em The Great Gatsby, o vazio e superficialidade da sociedade que vive de aparências. Há muito de Gatsby em Café Society! Principalmente a forte impulsão solar!
A herança judaica responde pela comicidade do filme! A disfuncional família judia de Nova York e pontuada de caricaturas e exageros. As passagens são hilárias e plenamente reconhecíveis! Pérolas de mães judias, como a máxima: "Viva cada momento como se fosse o último, porque um dia será."
As angústias existenciais são diluídas nos personagens secundários que complementam, brilhantemente, os personagens principais.
O ingênuo e sonhador Bobby Dorfman é uma das melhores personas de Woddy Allen, com sua aparência e comportamento contidos e oratória longa e elaborada. Jesse Eisenberg convence e sustenta.
Vonnie, interpretada por Kristen Stewart, é pura luz! Sua primeira aparição lembra a cena inicial de Daisy em The Great Gatsby: uma aurea de sol que ofusca! Kristen está líndíssima e confere à Vonnie mais estética do que conteúdo. A interpretação não impressiona, mas não compromete.
Steve Carell como Phil está absolutamente perfeito! Que sorte a substituição de Bruce Willis! Phil tem dramaticidade, coerência e convencimento!
A bela Blake Lively como Veronica tem pequena participação, mas ilumina por sua beleza e doçura!
Mas os maiores méritos do filme são a sua impecável trilha sonora e a maestria da fotografia de Vittorio Storaro! Ao som de "That Lady is a Tramp", "Manhattan", "My Romance", "I Only Have Eyes for You", "This Can't Be Love", as cores quentes de Hollywood e as sombrias de Nova York compõem nuances e crepúsculos absolutamente espetaculares! Um das cenas mais lindas do filme , o jantar romântico de Bobby e Vonnie, é distorcida por velas e sombras. O efeito é incrível!
Café Society ilumina a comicidade sádica da vida em nuances sutis das memórias de ilusões e desilusões.
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