segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Memórias de Halloween.






Minha sogra fazia bolos como ninguém. Do simples de fubá pra tomar com cafezinho ao recheado com várias camadas e coberturas elaboradas. Era a boleira oficial da família restrita e também da família estendida. Natural, portanto, que meus filhos tenham adquirido, desde bem pequenos, o hábito, o prazer genuíno e o paladar apurado para bolos. Com o empurrão da genética, a cumplicidade da Cristina  e a ajuda da santa Betty Crocker, minha casa sempre teve bolos. Eu tive pouquíssima participação nessa tradição. Não tinha e não tenho o talento que tem, por sorte, a minha filha. Neta da avó, sem dúvida!

Mas, ainda que pelo avesso, também tive o meu momento de glória! Quando o Daniel estava no 2nd grade, ele se ofereceu para levar um bolo para comemoração do Halloween na sua classe. Fiz o bolo às pressas, sem muita vontade e com a cobertura de chocolate granulado nada original. Para torná-lo um pouco mais temático, desenhei um fantasma de marshmallow. Claro que com toda a minha habilidade, o fantasma ficou horroroso e o marshmallow começou a escorrer. Mas foi assim mesmo e, afinal, era Halloween e tudo valia!   Resulta que o bolo foi um sucesso! E passou a fazer parte das comemorações de Halloween dos anos seguintes!

"Mrs. Mazzarolo will bring her  spooky cake" me redimiu!

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O Tablado. 65 anos de mágica teatral.







A primeira peça de teatro a gente nunca esquece!

 A minha foi O Rapto das Cebolinhas, de Maria Clara Machado, encenada   num teatro dentro do Parque Municipal de Belo Horizonte, onde morei na minha infância.

Coronel, Maneco, Lucia, Gaspar, Florípedes. E o inesquecível Camaleão Alface!!! E as ainda mais inesquecíveis cebolinhas da Índia e seu chá milagroso! Esses foram os personagens que estabeleceram a minha relação de absoluta entrega à mágica do teatro!




Maria Clara Machado é a referencia absoluta do teatro infantil de qualidade!Que criança não se emocionou com o fantasminha Pluft e a menina Maribel? Ou com a bruxinha Angela de A Bruxinha que era boa? Enredos fantásticos que criavam identificação imediata com o universo infantil. Textos ricos cuja assimilação era plenamente correspondida. Emoções e conflitos familiares e empáticos. E montagens lúdicas, coloridas, envolventes. Respeito e consciência da importância do teatro na formação de habilidades e relações infantis.

O Tablado, o espaço criado em 1951, tornou-se o santuário desse universo. E da vivência e formação dos jovens que queriam se dedicar a essa arte.

Por coincidência  - ou não -  estudei ao lado do Tablado quando voltei para o Rio. O lugar exercia uma atração inexplicável! Ou plenamente explicável pelos interesses que desenvolvi mais tarde. Uma porta modesta, quase imperceptível numa pacata rua no Jardim Botânico. Sem luxo ou alarde. Um entra e sai de jovens com roupas não convencionais e ares de importância. E meu coração batia forte de curiosidade e vontade de descobrir o detrás daquela porta. Não sei dizer quantas vezes pulei o muro dos fundos da  escola para dar de frente com aquela placa sagrada: O Tablado.

Cheguei a cursar O Tablado por 6 meses. Cheguei retraída, ansiosa. Parecia estranho ocupar aquele espaço ao qual não pertencia. Intromissão solene, respeitosa. Na primeira aula, não quis participar de qualquer atividade. Observei apenas. Nas aulas seguintes, aventurei-me nos exercícios de expressão corporal, e fui, aos poucos, me integrando àquele ritual. Mas não consegui seguir. Entre uma escola academicamente muito exigente, treinos de vôlei e uma necessidade social intensa de adolescência, o Tablado simplesmente foi. Embora nunca tenha realmente ido! Muitas vezes me perguntei  o que teria sido seguir esse caminho...

Talvez ter escolhido a literatura tenha mantido o meu Tablado vivo. Talvez ter um filho de teatro seja a minha retribuição ao Tablado.  Mas nada referente ao Tablado é talvez. Se há uma certeza inquestionável é a sua importância jamais superada.

Hoje O Tablado completa 65 anos. Impossível contar quantos profissionais saíram daquela porta modesta. Ou quantas produções encantaram plateias! Ou quantas crianças foram tocadas pelos seus  personagens e tramas fantásticos!

Penso no Tablado e penso numa porta que apenas se entreabre e deixa vislumbrar pequenas porções de mágica. Como goles de  chá. Chá da Índia. Feito das cebolinhas que jamais  se deixaram raptar.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Sapatos.

Seguiu à risca as instruções de Mãe Nena. Comprou o espelho e o par de sapatos. Na primeira noite de lua cheia, posicionou o espelho perto da janela para refleti-la por inteiro. Colocou os sapatos por cima e lá os deixou, lembrando-se de pingar, todas as noites, sete gotinhas de essência de ylang ylang. Quando acabou a lua cheia, guardou o espelho e os sapatos. Esperou o momento certo. Naquela noite, sentiu ser a hora de cinderelar-se. Fez-se bonita, borrifou seu perfume predileto e calçou os seus sapatos enluados. E foi assim, tal qual um conto de fadas, que ele surgiu. Quando seus olhares se cruzaram, ela arrepiou-se. E soube que ele seria o seu caminho. Um caminho aberto para flores coloridas em campos verdejantes e pássaros gorjeadores por cascatas borbulhantes e estrelas cadentes em céus infinitos e sinfonias orquestradas no amor. Tirou os sapatos com cuidado e guardou-os bem junto do coração. Não olhou pra trás.




(Publicado no grupo MINICONTOS  em 1º de abril de 212. Palavra-tema: SAPATO)

sábado, 15 de outubro de 2016

Pelo buraco da fechadura.

Rubem Alves dizia que num mundo com informações acessíveis  nos teclados, o professor não deveria ensinar nada. Nada. Apenas espantos. Matemática, geografia, biologia e demais matérias estão nos livros, na internet, em todo lugar. Mas não os espantos. Os espantos precisam ser aprendidos, apreendidos, descobertos, valorizados.

Adoro pensar na profissão  de professor sob a ótica do espantoso!

Embora seja de uma geração em que a informação ainda precisava ser ensinada, foram os meus professores de espanto que me tocaram e transformaram. E provocaram inquietudes e despertaram curiosidades. E uma grande alegria pelo pensar!

Tive sorte. Tive grandes mestres que estabeleceram altíssimos padrões de educação possível.  E me ensinaram que a função maior da educação é promover encontros. Todos os tipos de encontro. Com pessoas, com mundos, com o mundo. Mas, principalmente, o encontro com o nosso íntimo tímido e inseguro. Mas ávido por espantar-se. Por encantar-se. Pois é no encontro com o encantamento  - verdadeiro, intenso, desprevenido - que o aprendizado se revela!

Talvez seja esse o maior desafio da educação atual. Mais do que propor novas estruturas ou reformular conteúdos,  deve-se resgatar o fundamental. E o fundamental ainda é se espichar  e contorcer para ver um pouco mais além. Ver pelo buraco da fechadura. E espantar-se e encantar-se com as possibilidades do outro lado!




quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Bob Dylan. Porque são tantos os ventos nessa vida...









A nomeação de Bob Dylan para o Nobel de Literatura 2016 foi recebida com surpresa, espanto e algum questionamento. Afinal, com tantos escritores talentosos e obras tão belas, por que a música seria elevada ao status de literatura?

Basicamente, porque os conceitos que definem as manifestações artísticas devem ser ampliados. Inclusive e talvez principalmente a literatura. Traduzir emoções, criar histórias, inventar mundos. A palavra a serviço do que toca, emociona, descreve. E, principalmente, transgride. A literatura deve provocar estranhamentos, ocupar espaços incomuns, validar inadequações, causar assombramentos.

Bob Dylan é mestre em todas essas funções! Suas composições são complexas, elaboradas e de lirismo absolutamente tocante. Suas letras são poesias no sentido mais puro de poesia e, aliada à musicalidade, têm correspondência imediata e duradoura.

Bob Dylan talvez seja o maior marco musical da minha vida (claro, não contando o CHICO!!!)! Minha adolescência foi musicada a Blowin' n the Wind, Like a Rolling Stone , Lay ,Lady ,Lay, Mr. Tambourine Man, Just like a Woman, The Times they are A-changing, It ain't me Babe, Hurricane and Idiot Wind. Músicas icônicas que atravessam gerações com a mesma potência e influência.

Mr. Tambourine Man talvez seja a mais poética de todas!  "Yes, to dance beneath the diamond sky... With one hand waving free... Silhouetted by the sea... Circled by the circus sand... With all memory and fate... Driven deep beneath the waves... Let me forget about today until tomorrow..."Quanta poesia! Quanto lirismo! Quanta beleza!

Mas, sem dúvida, são os ventos de Bob Dyan que me emocionam! Blowin' in the Wind foi hino da minha geração! Hurricane foi uma revolução! Mas o meu vento preferido, Idiot Wind! Com Idiot Wind, conheci o som do ódio e da agonia dilacerante da ambiguidade do amor perdido. Com o subversão da métrica, ele subverte a ordem do mundo e do pensamento.  "It was gravity which pulled us down... And destiny which broke us apart... You tamed the lion in my cage... But it just wasn't enough to change my heart." Obra prima!

 E que muitos e muitos outros ventos ainda soprem  belos, poéticos e surpreendentes! E que mudem cursos! E sacudam o estático e imutável!


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Dia Mundial da Careta. Ou A Careta, A Lagartixa e Os Cupins.

Era uma vez um mundo povoado por caretas de criancinhas. Línguas pra fora, olhos zarolhos, bochechas tortas e toda forma de careta que se possa imaginar! Era um mundo muito louco, mas muito divertido!

Um dia, uma lagartixa muito da caprichosa resolveu que queria para si todas as caretas desse mundo. E passou a assustar, então, criancinhas desprevenidas. Era passar alguma e a lagartixa botava o linguão pra fora! As pobres criancinhas, coração batendo forte, corriam em debandada e deixavam suas caretas para trás. A lagartixa voltava para casa às gargalhadas e guardava as caretas bem guardadinhas. Já tinha uma coleção e tanto! E quanto mais acumulava, mais o mundo ficava sem graça.

Acontece que a casa da lagartixa era infestada de cupins. Infestada mesmo. E eles se irritavam com os gritos das criancinhas e com as gargalhadas da lagartixa. Além do mais, as caretas estavam por todo lado e dificultavam seus movimentos. Cupins são lentos e pesados. E gostam de sossego para roer e comer as madeiras apetitosas em paz. E também gostam de se refastelar com a pança cheia. Os cupins não gostavam das caretas.

Pediram com educação. A lagartixa nem tcham nem tchum. Brigaram. Ela deu de ombros. Até que resolveram expulsar a lagartixa e as caretas de casa e se amontoaram duros que nem rochas para bloquear as portas e janelas pra lagartixa não conseguir mais entrar. Ela bem que tentou. Fez muita força, mas os cupins não arredaram nem um tiquinho assim.

A lagartixa sentou ali fora com todas as suas máscaras espalhadas. Experimentou uma, outra, e outra mais. Rainha das caretas! Todas suas! E deu de costas para os cupins da casa infestada. Eles iam ver só!

Mas por que então não se divertia? Por que as caretas não pareciam mais caretas? Por que o mundo parecia tão chato? Seria mesmo que caretas sozinhas não tinham graça? E ficou ali matutando enfastiada. Nem sabia quanto tempo passou, Tempo parado é o pior tempo que existe!

Até que... Mas esperem! Quem vinha lá? Ela escutava passinhos e risadinhas de criancinhas. Será? . Escondeu-se pra ver quem se aproximava. Oh...Eram mesmo criancinhas! E duas! E lindas! Seriam forasteiras? Tinham que ser! As criancinhas daquele mundo não passavam por ali desde que ela tomou para si todas as caretas. A lagartixa se fez de mortinha pra não assustá-las. E entreabriu um dos olhinhos pra ver bem o que elas faziam. As criancinhas saltitavam e riam. Pra lá e pra cá! Que alegria! A lagartixa se espichou mais um pouquinho. O que??? Tinham caretas!! Ela não podia acreditar!

Mas que caretas eram aquelas? A lagartixa nunca tinha visto igual! Não, não, parem! Mas o que pensam que estão fazendo? As caretas da lagartixa pareciam ter enlouquecido! Ao ver as caretinhas lindas das lindas criancinhas, as caretas se rebelaram. Não queriam mais morar na casa infestada de cupins. E muito menos ser caretas de lagartixas! Queriam ser o que deveriam ser! Assim, em marcha livre, saíram pelo mundo procurando as criancinhas que ficaram sem suas caretas.

E foi assim que 12 de outubro, aquele dia memorável, virou o Dia Mundial da Careta. Uma festa só! Nunca se viu tantas caretas rodopiando felizes e fazendo maluquices! E tudo ficou bem como deveria ser.

E as criancinhas lindas das lindas caretas? Olhem elas ali na foto!

E a lagartixa? O que aconteceu com a lagartixa? Deu meia volta, entrou na casinha infestada, fez as pazes com os cupins e nunca mais foi vista!



segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Juba2


Sábado, 8 de outubro. Casa das Caldeiras em  São Paulo.

No espaço reservado para a cerimonia religiosa, os tijolos aparentes  das paredes se harmonizavam com o tapete rústico e colorido que cobre a nave principal e com as luminárias de velas emolduradas apenas por um ramo verde. A música  convidava e entretinha enquanto esperamos ansiosos e emocionados.

Há algo de  solene e incomparável no cortejo de um casamento. Uma magia. A apreciação coletiva e solidária a  toda aquela simbologia e corações compartilhados na  nova unidade formada. Naqueles passos até o altar, há 2 histórias de famílias e amigos sendo contadas e celebradas. E fazer parte de alguma forma dessas histórias explica as comoções nem sempre explicáveis.

Vi o noivo entrar com sua mãe. Vi a minha amiga entrar com o pai do noivo. Tão linda e elegante!  Majestosa! Caminhei com ela em pensamento, familiar com  muitas das passadas que a levaram até o altar. Vi com imenso carinho a Renata,  sua filha mais velha com  seu marido e seu filho Marcelo com a bela namorada.  Suas imagens de crianças se misturaram às dos adultos que hoje são. Vi os netos da minha amiga protagonizarem uma das cenas mais ternas que já vi num casamento: o  mais velho literalmente puxar o seu irmãozinho que mal aprendeu a andar pelas mãozinhas, com o maior cuidado, até chegar no final da nave!  Por fim, vi o meu amigo trazer pelos braços a sua bela Juliana. 


Conheci a Juliana quando ela tinha apenas 4 aninhos. Uma menina decidida, atrevida, mãozinha na cintura e queixo pra cima. Vozeirão. E quanta atitude! Não levava nenhum desaforo pra casa, muito menos vindo de  qualquer menino "idioto"!  Juliana tornou-se uma linda, muito linda mulher! E nunca perdeu a sua personalidade forte e desafiadora!


Vê-la desfilar, altiva e bela no maravilhoso vestido de renda segurando firme o maravilhoso buquê e estampando o  seu característico sorriso espontâneo e escrachado me encheu de emoção!  Flashes desse tempo que passou tão rápido!  Quando foi que esse tempo passou a ser contado em  passos até um altar?  





Juliana, Juba na infância, casou-se com João, também Juba na infância. Daí o Juba2. Escrevi o conteúdo do site de casamento deles e, nessa construção, aprendi o que os atraiu e como  fortalecem os pilares de sua relação. Nos seus votos, na troca de alianças e nos testemunhos de seus amigos, essa  nova história  conjunta começa abençoada!

















A festa que se seguiu foi só alegria! E que festa! Em cada detalhe, uma delicadeza. E só quem conhece a minha amiga Bel consegue entender todas as delicadezas em tantos detalhes! Porque a Bel é esse tipo de pessoa que se coloca inteira!  Das gravatinhas dos pajens costuradas por ela uma a uma, até a dobra de cada forminha. Tudo tem a assinatura da sua elegância pessoal, individual e que  acolhe e prestigia!  Não sei como ela faz, mas sempre faz tudo ser especial e dedicado! É um talento que não conheço em muitas pessoas. E ela faz tão bem...

Dançamos, comemos, bebemos. Rimos. Muito. E, mais uma vez, celebramos com alegria e orgulho  a nossa amizade rara!

Bela Ju e  João: votos de imensa felicidade e uma vida conjunta plena e próspera!

 Bel e José Francisco: parabéns pra filhota! Parabéns pela linda festa!

Queridos amigos que fazem parte dessa história: como é bom termos tanto a celebrar e comemorar!
Que nossos corações continuem sempre alargados para conter tantos mais de nós!!