É no encontro com qualquer forma de literatura que ampliamos, transformamos e enriquecemos nossas experiências de vida. A literatura infantil, como primeiro contato da criança com a infinitude do universo literário, tem importância vital no seu desenvolvimento! É através do prazer, da entrega, da curiosidade, da identificação e da imaginação que ela aprende a coordenar palavras, ideias e emoções e, a partir daí, formular suas visões individuais de mundo.
Uma vez estabelecida - com sucesso - essa relação, as possibilidades são ilimitadas! E a criança mergulha em descobertas e explorações de labirintos reveladores e surpreendentes! Dela e do mundo que acerca.
Fábulas, Contos de Fadas e Lendas. A literatura infantil constituiu-se, desde os seus primórdios, no fantasioso e maravilhoso. E essa linguagem metafórica comunica-se facilmente com o pensamento mágico e natural da criança.Os significados simbólicos dos contos maravilhosos estão ligados aos eternos dilemas que enfrentamos ao longo do nosso amadurecimento emocional. E as dicotomias apresentadas na literatura infantil - bela/feia, boa/má, poderoso/fraco, etc - lidam com valores perenes. O que muda, através das gerações, é o que se define como certo/errado.
A estante sempre teve lugar de destaque na minha casa. E nela, perfilavam-se coleções encadernadas dos clássicos da literatura: Reino Infantil, Croni, Machado de Assis, José de Alencar, Malba Tahan, Sherlock Holmes, Coleção Menina e Moça (mais do que apropriado para uma casa com quatro mulheres!etc, etc, etc... E, claro, Monteiro Lobato!
Monteiro Lobato... Determinante na minha relação com a leitura. Sem dúvida alguma, a maior influência! Inestimável. Incomparável. Inigualável. Desbravador e libertador da minha emoção literária. Li-o, reli-o. Avidamente. Repetidamente. Apaixonadamente. Deslumbrada. Maravilhada. Tocada. Transformada. Sonhei e vivi aventuras. Com e sem o pó de pirlimpimpim. Estive em todos os reinos, de Águas Claras à Grécia de Hércules. Mas fui sempre brasileira. De saci-pererê e onça pintada. Fui vários. Todos. Narizinho faceira, Pedrinho valente, Visconde sábio. E, embora não me lembre sob que circunstâncias, certamente fui também Rabicó alguma vez. E fui Emília espevitada quase sempre. Ou, pelo menos, na vontade de ser. Minha grande heroína! E senti pontadas por Dona Benta. E salivei as quitutes da preta negra Tia Nastácia. E nem por isso cresci racista!
Monteiro Lobato disse: "Ainda acabo fazendo livros onde as crianças possam morar." Já pensaram? Megalópolis de livros - de Monteiro Lobato e de todos os outros talentosos autores- com infinitas portas para mundos múltiplos, mágicos, viáveis, inviáveis, possíveis, impossíveis, temidos e desejados?
Acreditar que SEMPRE era uma vez... Afinal, sem uma vez que era, nenhuma outra vez será!