domingo, 31 de janeiro de 2016

Good Grief!!!!

"Sometimes I lie awake at night and ask, "Is life a multiple choice test or is it a true or false test?"... Then a voice comes to me out of the dark and says, "We hate to tell you this, but life is a thousand word essay." (Charlie Brown).







Encantamento. Delicadeza. Comicidade. Ingenuidade. Naturalidade. Simplicidade. Esses são os substantivos que definem o tão esperado Snoopy e Charlie Brown - Peanuts, O Filme!

A animação em 3 D, com muita eficiência e fiel à criação do autor, alimenta a nostalgia de quem cresceu sob a forte influência de Charlie Brown e sua turma ,  ao mesmo tempo em que os apresenta à nova geração identificada com  os recursos técnicos demandados pela contemporaneidade.

Charles Schulz criou as tirinhas mais famosas do mundo em 1950. Ele mesmo escreveu e desenhou as quase 18.000 tirinhas publicadas até a sua morte em 2000. Elas foram publicadas em 75 países, traduzidas para 21 idiomas e lidas por 335 milhões de pessoas. São  números realmente impressionantes!

O segredo de tanto sucesso?  A identificação imediata com os personagens tão bem construídos e que mantiveram sua essência  e coerência inalteradas.  O universo infantil que soube traduzir  com naturalidade e simplicidade as complexas  relações humanas. Cumplicidade e conflitos entre irmãos, lideranças,  talentos, medos, desempenhos, amores não correspondidos, lealdade,  entre outros tantos. E, acima de tudo, um menino inadequado, mas que não desiste de seus sonhos! Num mundo extremamente competitivo e sem espaço para derrotas, Charlie Brown tem sido  alivio e conforto para muitas gerações!  Snoopy, fiel escudeiro, ganhou vida própria e enredos paralelos. Quem não sonhou/sonha com  o seu próprio beagle? Quem não se delicia com o cachorro sarcástico, criativo e tão imaginativo?

A potência dos personagens é tamanha que o próprio Schulz, junto com a família e ainda em vida, decidiu não deixar que outros assumissem as suas criações. O desejo foi cumprido até que seu filho e seu neto decidiram apresentar o enredo sob a direção de Steve Martino para nosso deleite e agradecimento!

O filme reproduz com fidelidade e respeito as tramas descritas ao longo das tirinhas. Está tudo ali. O cobertor de Linus, o atendimento psiquiátrico de Lucy, a dedicação de Schroeder ao piano, Sally e suas frases descolocadas, as alusões  a cabelos naturalmente encaracolados, expressões típicas como "good grief" e "rats", Sally Pmentnha e Marcie, a pipa, o beisebal, Woodstock, o Barão Vermelho. E no centro, como fio condutor, Charlie Brown e o seu amor pela Garotinha Ruiva. Snoopy, também fiel às tirinhas originais, alterna a coadjuvância dentro do grupo com o protagonismo de seus enredos paralelos.

Engana-se quem espera um filme épico ou de  eletrizantes novas aventuras. É um filme que mantém  as características e o  mesmo ritmo que eternizaram essa turma tão querida. Os mais velhos se emocionarão. Os mais jovens, conhecerão uma turma inesquecível!

 Mergulhados num mundo de intolerâncias e de valores humanos tão fragilizados, Snoopy e Charlie Brown - Peanuts, O Filme, surge como um bálsamo! E, dentro de um  universo onírico muito bem construído, nos faz lembrar  e  sonhar com  o resgate dos  valores mais básicos e necessários!








sábado, 30 de janeiro de 2016

Saudade.

"Que a saudade dói como um barco... Que aos poucos descreve um arco... E evita atracar no cais..." (Pedaço de Mim - Chico Buarque)


Saudade. Substantivo abstrato inconformado em concretude.

Saudade tem cheiro e gosto. Tem toque inconfundível. Tem cores, todas as cores. E sons. De voz, palavras, risadas, suspiros, gemidos, música, poesia. Saudade é história e geografia. Como tapete mágico, revisita nossos tempos bem vividos em lugares por onde a nossa alma se deixou deixar.

Saudade também é gente. É a busca da  nossa solidão aflita por quem fomos e perdemos. E é também todos os que nos ensinaram a vida  e os sentimentos de amor. Quem deixou de si e levou de nós.

Saudade pode doer e causar tristeza. Mas é bom. Acalma e conforta. Afinal, não sentimos falta ou não nos eternecemos pelo que não seja memória de felicidade.

E assim, nutri-la  é, na verdade, um ato de vaidade. Vaidade consentida e esperançosa. Que aprisiona e eterniza,  como em álbuns de fotografias, nossas impressões  e referências dos instantâneos da nossa  existência plena.



segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Aquela alguma coisa que acontece no meu coração.







"Sonhei que deu no jornal... Que São Paulo estava coberta de água e sal... Pela mais branca das ondas de um mar de safira... Não era mentira e nem carnaval... Também não era milagre... Desastre ecológico... Nem nada igual... E quando a onda abaixou... A cidade ficou normal...  Só que do chão vinha a calma da lama do mangue... Da alga e da estrela do mar...E a maresia acendia... Uma coisa alegria... Que a espuma da onda espalhou pelo ar... Tamanho banho era um beijo... De cheiro e desejo... Em cada pessoa daquele lugar... E nesse dia saiu na primeira edição de todos os jornais do Brasil: São Paulo Rio..." (São Paulo Rio - José Miguel Wisnik)




São Paulo completa hoje 462 anos de assombramentos. O tamanho assombra. A altura assombra. A densidade assombra. A intensidade assombra.

São Paulo da diversidade, multiplicidade, contrastes e paradoxos. O mega que revela os minis. Lentamente. Caprichosamente.

E ainda assim, há um coração que pulsa diluído no concreto que inibe e constrange. Coração inesperado, acolhedor e aconchegante.E que fez/faz lar para milhões de forasteiros que, como eu, adotaram os seus direitos e seus avessos. E também os avessos dos avessos dos avessos dos avessos.

Mesmo após quase 4 décadas em São Paulo, meu coração continua dividido. Sem conflito e em convivência harmônica. E sem cobranças. Metade é sol e azul e natureza majestosa e beleza exuberante. E metade é gente e coisas e tanta vida transbordante. No Rio, nasci. São Paulo, escolhi. E aprendi a amar em entrega absoluta e por inteiro.

E assim sigo carioca em poesia escrita em versos paulistanos. Em beijo de espuma no asfalto. Em céu cinza molhado de mar....

E alguma coisa definitivamente acontece em meu coração...



domingo, 24 de janeiro de 2016

Honestidade e almas penadas.

"Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste País, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da igreja católica, nem dentro da igreja evangélica. Pode ter igual, mas eu duvido. (Luiz Inácio Lula da Silva - 20/01/2016)

As hipérboles do ex-presidente Lula já são conhecidas. Os "nunca antes na história desse país" repicam já em tom jocoso e desgastados pelos conteúdos esvaziados.

Ideologias à parte, denúncias à parte e leviandades à parte, a infeliz declaração sobre a sua honestidade acima de todos proferida na última quarta-feira afronta e denuncia patologia - grave - sobre a percepção de sua auto imagem.

Honestidade é um valor estreitamente ligado aos princípios da integridade moral, justiça e verdade. A filosofia discute amplamente -  e sob diversas luzes - a complexidade dessa "qualidade". Mais ainda, discute se honestidade é nata ao homem ou resultado de sua interação com a  sociedade onde se insere.

O consenso parece ser de que honestidade reflete, sim, os valores éticos e morais de uma determinada sociedade e, portanto, podem variar para refletir o que é aceitável ou praticado por aquela sociedade em particular. Mais além, uma mesma sociedade pode flexibilizar o conceito em alguns sub núcleos e ser mais ou menos permissiva com algumas práticas. Mas coerência é necessária e mandatória para regulamentar a subjetividade.

Parece também consensual, infelizmente, que honestidade tenha sido  relativizada pelos Estados, ao longo da História, como entidades à parte e separadas das sociedades para as quais governam. Em geral. Inclusive e principalmente no Brasil. Digo principalmente porque não me interessam os Estados que não me afetam. Esse é o  Estado que  me afeta.

Mas ainda assim, ainda que com elasticidades permitidas, uma vez  definidas e regulamentadas, não há honestidade maior ou menor. É ou não é.

O ex-presidente Lula e o partido que representa - incluindo-se ai membros, parceiros, aliados, apoiadores e defensores - justiça seja feita, não ditaram os parâmetros  tão frágeis que a nossa história estabeleceu como honestidade no exercício da política. Herança maldita! Mas que, em alguns casos já comprovados, sentenciados e punidos, foi expandida, estendida e aprimorada.  Isentar-se dessa co-responsabilidade - ainda que por omissão -  é inaceitável!

A indignação aumenta à medida em que se torna  evidente que a  sociedade aquém do Estado contesta e repudia os valores adotados para as práticas politicas. Não são mais valores aceitos ou permitidos. Não há mais consenso para a relativização da honestidade. A sociedade brasileira clama por um valor único  que a traduza  em todas as esferas. Isso tanto é verdade e entendido, que a declaração do ex-presidente já traz para a infeliz comparação entidades religiosas fora do contexto politico. Ao colocar-s fora do exclsivo ambiente político, entende-se que os valores mais amplos passam a servir omo referência.

Ainda que nenhuma das tantas frentes de denúncias o envolvendo sejam comprovadas - o tempo e a justiça dirão -  a arrogância do ex-presidente demonstra o seu distanciamento dos "menos favorecidos" que ele insiste em dizer  defender. Ao colocar-se acima de todos, em superlativos incabíveis - e até agressivos -  ele desconsidera os milhões de brasileiros que, apesar de tantas adversidades, praticam a honestidade como um valor não questionável. Brasileiros que passam fome, mas não roubam. Que privam-se de pequenos luxos para pagar os seus impostos. Que vencem suas dificuldades com criatividade, mas não com inverdades. Que aceitam o pouco que lhe  é dado - por direito -  com resignação. Que não perdem a fé e esperança.? No quesito honestidade, uma vez estabelecidos os parâmetros, não há mais ou menos. Tem que ser igual. Ou não é. A única linha divisória permitida é ser ou não honesto. Baseado em que parâmetro, portanto, o ex-presidente se coloca acima de nós, indivíduos e cidadãos honestos?

Mas o que mais impressiona na infeliz declaração  - e aponta para a patologia mencionada no inicio da minha reflexão - é a comparação do ex-presidente com instituições e não com indivíduos. Sua equivocada auto percepção o coloca como entidade verdadeiramente acima desse plano terreno.

Não é por acaso, portanto, que ele utiliza o plano espiritual da essência humana  para estabelecer a infeliz comparação. Alma é fora do terreno, fora do corpo, fora da matéria. Alma é proximidade com o divino.

Das duas uma: (1) ou Santo Lula é realmente um perseguido e injustiçado enviado de Deus   ou  (2) já percebeu que sua matéria está condenada e o que lhe resta como esperança de salvação está no espiritual.

Seja o que for, nossa política nefasta está super lotando o limbo espiritual com almas penadas vagando a esmo em busca de alguma luz...








quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

São Sebastião da Cidade Maravilhosa. Salve!


“Sebastian, Sebastião...Diante de tua imagem...Tão castigada e tão bela...Penso na tua cidade...Peço que olhes por ela...” (Sebastian - Gilberto Gil)





Reza a lenda que São Sebastião foi visto com espada na mão entre os portugueses, mamelucos e índios na batalha final que culminou com a expulsão dos franceses que ocupavam o Rio de Janeiro, travada em 20 de janeiro, dia do santo. E  tornou-se padroeiro da Cidade Maravilhosa!

O dia 20 de janeiro, é, portanto,  na verdade, dia do santo! Mas seja por devoção ou seja por confusão, passou a ser também o dia da cidade. E pouca gente se lembra de que do aniversário oficial  em  1º de março.



Acho São Sebastião o santo mais sortudo do mundo! Porque não há, certamente,  cidade mais maravilhosa nesse ou em qualquer planeta de qualquer galáxia conhecida ou a conhecer! É tanta beleza, tanta exuberância, tanta cor de céu, sol e mar,tantas curvas montanhosas, tanto até onde a vista alcança, que até o fôlego suspende e não dá conta!


É bem verdade que o Rio tem alternado, em simulações de montanhas-russas radicais, seus momentos de extremos deslumbramentos e profundas desesperanças. Atualmente, infelizmente, muito mais desesperanças do que deslumbramentos...


 






















Os contrastes chocam! A convivência entre bençãos e flagelos, até bem pouco tempo resignada e incorporada ao cotidiano da cidade, conflita e revolta.O potencial exuberante - natural e humano - já questiona a sua capacidade de realização. O descaso com o patrimônio - natural e humano - já aponta condenação e indignidade praticamente irreversíveis.






E ainda assim, a cidade  não cede. Nem desiste. E insiste em maravilhar! E maravilha mesmo! Como maravilha! Coisa mesmo de santo! De santo que olha e cuida. Porque os homens, ai, os homens, não estão cuidando não...











domingo, 17 de janeiro de 2016

Marina Morena Marina.





Minha filha chegou ao mundo nas primeiras horas de luz do sol do dia 17 de janeiro de 1989. Iluminada e iluminando.

Chegou prematura, determinada e contrariando qualquer destino que destino qualquer pensasse lhe impor.

Decidiu, por exemplo,  que não seria aquariana, como previsto, e sim capricorniana. E bancou a decisão! É caprina das boas! Inspiração para os manuais mais precisos  de descrição e definição do signo!

Decidiu, também, o impasse do seu nome. Nem Catarina nem Manuela, como queria a mãe. Nem Fernanda nem Andréa, como queria o pai. Em ondas de indecisão,  sob prantos nervosos com a prematuridade a caminho da maternidade,  nasceu Marina.  E não há nome mais apropriado! Trouxe do mar para o seu nome e para a sua vida - e para a nossa vida - marés alternadas de calmarias e turbulências. E trouxe também do mar  e para a sua vida - e para a nossa vida - toda a beleza, imensidão e mistérios.

Não foi, portanto, por acaso, que o seu umbigo, como manda a tradição familiar, tenha sido atirado ao mar pela sua madrinha em frente ao Hotel Marina no Leblon, no Rio de Janeiro. Tenho certeza de que as deusas que habitam aquele mar ainda retribuem o presente recebido, em gratidão eterna, em bençãos de beleza, graciosidade e inteligência.






















Laços, chuquinhas, vestidos, tons de rosa. Menina dos pés a cabeça. Naturalmente. Boneca entre todas as bonecas, princesa entre todas as princesas, fez jus à enorme coleção de bonecas e princesas que sempre lhe rodearam. Como gostava de bonecas! Como gostava de princesas!

Dois episódios, ainda pequenininha, marcaram justamente duas grandes referências do universo feminino: brincos e cabelo. Furamos a sua orelha ainda bebê, num passeio ao Rio de Janeiro. Na farmácia da Rua General Glicério, onde morei na adolescência, e com o farmacêutico que furou as orelhas de várias amigas da minha geração. O pai, numa de suas muitas viagens a trabalho,  trouxe uma coleção de brincos temáticos: ursinhos, moranguinhos, sorvetinhos, o que se pensasse, tinha o brinco! Acontece que a menina, com o brinco de ouro herdado da prima,  tanto fez e mexeu, que rasgou a orelha. Resultado: anos e anos e anos sem brinco, e só depois de uma pequena plástica, já maiorzinha, furou novamente. Os tais brinquinhos, lindos, que o pai trouxe, quase não foram usados.




O cabelo??? Ahhhh... O cabelo... Com  dois anos, o cabelo começou a cair. Do nada. Todo. Ficou carequinha.  Como a minha sogra tinha pouquíssimo cabelo, fiquei desesperada! A médica nos tranquilizou, dizendo que (1) calvice é transmitida pela mãe e não pelo pai. Ufa!  (2)  era normal, porque ela quase não tinha perdido cabelo em bebê. Normal ou não normal, foi traumático.  O novo cabelo começou a nascer todo espetadinho. Ela parecia um porco espinho. Para piorar, ela e o irmão pegaram catapora. Estávamos de mudança para Buenos Aires e a menina cheia de manchas e com o ralo cabelo espetado. Não há como descrever. As pessoas apontavam na rua. Algumas não se continham e pediam para passar a mão na cabeça dela e se espantavam ao ver que o cabelo era fininho, macio e sedoso. Ela, do seu lado, não estava nem ai!  Desfilava aquele projeto de cabelo feliz da vida! Chamamos, em família, essa fase de "a  fase punk" da Marina. Mas a médica estava certa! O cabelo cresceu lindo e numa  cor mel mechado que há quem duvide  que seja natural!

Chorou todos os dias quando a deixava na escola em Buenos Aires. Só parava quando eu dizia que ia comprar uvas - que ela adorava - e que voltava em seguida. A frutaria local agradecia. Chorou todos os dias quando a deixava na escola em San Juan, Porto Rico. Sem acordo nem para comprar uvas. Parou de chorar quando teve idade pra entrar na Escola Americana, ainda em Porto Rico, onde o irmão já estudava. A partir dai, a vivência escolar foi muito positiva!



Determinada, consegue o que quer. Aprendeu a escrever nome e sobrenome enquanto as outras crianças ainda tateavam as letras. Perdeu o primeiro dente quase junto com o irmão, depois de bater com o dentinho, duro como um pedra, até que amolecesse. Entrou para o time de vôlei da escola sem experiência prévia, apenas treinando, obstinadamente, no tempo livre que tinha. O mesmo aconteceu com o time de futebol. Foi aceita na faculdade que quis no Canadá. De volta ao Brasil, entrou na faculdade que escolheu. No estágio que escolheu. E foi efetivada, depois de formada,  na vaga que queria.


















Pequena, era das mais altas da classe. Na adolescência, ficou pra trás. Ai decidiu que deveria usar salto 15. Não durou muito... Nas férias em Juquehy, entrava e saia de casa agarrada aos cabelos, depois de ter lido que morcegos gostavam de fazer ninhos em cabelos longos.  Em outro momento, decidiu ser uma vegetariana que come bacon e pernil. Adora remédios e tem conhecimentos farmacêuticos que impressionam! E assustam! Tem um amor por cachorros que não há como explicar! É organizada, metódica e não reage bem a imprevistos. Exagerada. Intensa. Acha que tem os piores defeitos das duas famílias. Herdou da avó paterna o talento culinário e da avó materna algumas intransigências. A casa passou a funcionar, no momento em que ela se tornou adulta, com o único propósito de "não estressar a Marina". Não é bom conviver com uma Marina estressada. Sabemos todos muito bem disso!



Suas amizades são duradouras. É reservada, mas quem conquista  sua confiança tem a amiga mais fiel e leal do mundo!

Profissional responsável, preparada, focada, centrada, dedicada e com uma noção de limites que me deixa boquiaberta! Como tenho aprendido com a minha filha!




E ai,  aconteceu o amor... Quando tinha que acontecer. Com quem tinha que acontecer. Virou Yamit, saiu de casa e juntos, constroem suas vidas, projetos e sonhos!  E é tao bom vê-la florescer na relação madura, respeitosa e onde o melhor de cada um sobressai e se supera!




Hoje ela completa 27 anos! Vinte e sete anos de raios de sol  na minha vida! De um amor que só aumenta e cresce em orgulho e admiração pela pessoa linda em que ela se transforma a cada dia. Todos os dias! Generosa, companheira, preocupada. Atenta às necessidades dos outros. O "hello" tão familiar que espero todos os dias ao telefone. Olho pra minha filha e me pergunto quando foi que ela cresceu e como foi que ela se tornou tudo isso por ela mesma...  Como é que filhos se transformam em adultos à nossa revelia? Independentes e sábios, desconectados do cordão umbilical  passivo, sob a ilusão de que nos pertencem?

Minha Marina Morena Marina. Mari. Má. Nina. Ninoca. As marés  estavam realmente em formações inspiradas  no dia do seu nascimento!  Co-autoro o que o  pai escreveu quando ela completou 18 anos:  "Sempre quis ter uma filha. Tive a mais linda de todas!"






















quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Aniversariando.

"Hoje eu sinto que cresci bastante
Hoje eu sinto que estou muito grande
Sinto mesmo que sou um gigante
Do tamanho de um elefante.

É que hoje é o meu aniversário
E quando chega o meu aniversário
Eu me sinto bem maior, bem maior, bem maior, bem maior
Do que eu era antes."

(Aniversário - Palavra Cantada)

Nasci em janeiro. Férias. E das longas de verão. Festa de aniversário? Nem pensar. Quando as aulas começavam e os amigos voltavam, meu aniversário já era passado remoto. Nunca me incomodou, não. Capricornianos legítimos aprendem desde cedo a conviver com a sua solidão natalícia.

Mas aniversariar é aniversariar!  E como tal, não tem maior ou menor! E celebrar o aniversário é sempre bom, é sempre renovador, é sempre energizante!

Tenho ótimas lembranças de aniversários!Lembro de presentes especiais que ganhei, como  um enxoval completo de boneca -  com direito a japona e tudo! -  quando tinha 5 ou 6 anos. Ou a minha famosa Blá Blá,  a última boneca que ganhei do meu padrinho antes dele virar estrela. Lembro de aniversários na adolescência, sempre tão esperados! E os  da vida adulta, principalmente já com Daniel e Marina, e os bilhetinhos e cartões que guardo como tesouros!

Mas celebrar o aniversário em tempos virtuais ganha nova dimensão! E agradeço viver esse tempo e desfrutar dos encurtamentos temporais e espaciais! Ontem, ao longo do dia, enquanto recebia mensagens e felicitações por canais e fusos tão  diversos, pensava na sorte de ter o mundo ao toque do meu dedo. Como mais poderia celebrar o meu dia com amigos e familiares espalhados pelo mundo? De que outra forma  Rio, Brasilia, Aracaju, Tailândia, Estados Unidos, Inglaterra, França e  sei lá onde mais poderiam estar, simultaneamente, ao meu alcance? E me mandando tantas boas energias?

E enquanto meu coração alargava a cada carinho recebido, pensava em quanto a vida é transgressora e não a linha reta que une dois pontos, como todo capricorniano acredita ser! E pensava no quanto a maturidade ensina sobre o além do óbvio. Ou sobre a desconstrução do assumido. Ou sobre tempos e espaços mutantes. Ou sobre adaptabilidade e disponibilidade. A maturidade aceita  assombramentos e deslumbramentos com a mesma naturalidade  da infância. Sem surpresas. Sem sobressaltos. Em plácido reconhecimento e acolhimento.

E foi pensando nessa linha de vida entre a infância e maturidade - que parece tão longa, tão segmentada e tão conflitante - que me dei conta do quanto essa linha imaginária é uma simplificação ingênua, equivocada e imatura da juventude. Apenas quando jovens precisamos de limites claros para atravessar fases. Assim,  você deixa de ser criança quando... E adolescente quando... E adulto quando...

Lembrei-me das minhas aulas de História na 5º série do Colégio Teresiano no Rio de Janeiro.  A professora, d. Maria Lucia, começava o programa apresentando a frisa histórica. Bendita frisa histórica! Era um rolo de plástico emborrachado, enorme, de cores que mostravam as mudanças das eras históricas. Era assim que ela nos apresentava os diferentes períodos  e os eventos que marcavam a passagem de um pra outro. Nunca esqueci a frisa! Como nunca esqueci que a Pré História termina com o surgimento da escrita e que a Idade Antiga termina com o Império Romano e que a Idade Média termina com a tomada de Constantinopla pelos turcos e que a Idade Moderna termina com a Revolução Francesa  e que a Idade Contemporânea segue...

Mas a vida não é uma frisa histórica. Ainda bem! Na maturidade, entendemos que os quandos se confundem e o tempo se liberta da sua linearidade cronológica! Ainda bem! E permite idas e vindas - quantas e tantas  se quiser! - através dos quandos construidos e vividos! Que bom!

E é  nesse tempo desfragmentado que resgatamos nossos  fragmentos de tempos. Nossos tempos e nossos eus. E alternamos, sem culpa e sem censura - pelo contrário, com consciência e alegria -  nossas fases que se completam muito mais do que  se excluem! Ser criança aos 58  é tão possível e real  quanto ser adulto aos 5. Ou adolescente aos 32. Ou maduro aos 18. Somos SEMPRE um pouco - ou muito - de todas essas fases!

E pensei em todas essas pessoas especiais que me acompanham na vida - algumas desde sempre e outras que foram entrando aqui e ali  - e em como  elas provocam a alternância desses quandos. E me permitem ser criança e adolescente e adulta e super adulta como uma porta giratória por onde entro e saio como mágica! Sempre inteira! Sempre maior!

Pensei também que ter nascido em 1958 e completar 58 deveria ter algum significado especial. Ou esperar alguma sabedoria reveladora e transformadora! Não sei se há.

O que sei é que nascer em 1958 e completar 58 anos é muito especial!  E receber tanto carinho de tantas formas  é  muito especial! E ter  a minha mãe e meus irmãos e sobrinhos e sobrinhos-netos e tios e primos e agregados e amigos e filhos de amigos e amigos de amigos é muito especial! E ter meus universos ampliados e receptivos é muito especial!  E me obrigar a mudanças e aprendizados é muito especial! E ter o amigo  leal e generoso que me leva, a cada aniversário, ao meu restaurante preferido é muito especial!E o meu filho, com meia barba e meia sobrancelha descoloridas,  me trazer uma rosa vermelha é muito especial! E minha filha fazer um bolo pra eu soprar a vela improvisada é muito especial! E o meu mundo tão grande caber todinho dentro do meu coração é muito especial!

E é por isso tudo que eu estou me sentindo assim tão grande...  Um  gigante... Do tamanho de um elefante...

Felizes 58 tempos!!!



















domingo, 10 de janeiro de 2016

Macarrão feito em casa.






Minha sogra era uma cozinheira de mão cheia. Dessas de forno, fogão e água na boca. Nada de muito sofisticado, não. Mas aquele sabor inconfundível da comida caseira levada à perfeição ao longo dos anos, do marido e dos 4 filhos que só comiam a comida feita por ela.

Seus bolos eram lendários e aniversário não era aniversário  sem eles. Boleira oficial. Para todo gosto e de todo tipo. Às vezes inventava  recheios de frutas e coberturas de coco que causavam protestos. Não havia bolo melhor do que o  mesclado de  chocolate e chantilly. Dos deuses lamberem de joelhos e pedirem mais!

Os pastéis de Natal também eram sua exclusividade. Dava um trabalhão moer todas as frutas secas e embeber, um a um, no mel . Ninguém tinha muita paciência e, depois de um tempo, ela era a única a  manter a tradição, religiosamente, Natal após Natal,  e fornecer para o resto da família. O sabor era forte e nem todos gostavam. Mas como pensar em Natal sem os famosos calzunos?

Mas a sua marca registrada era mesmo o macarrão feito em casa! Como boa descendente de italianos, fazia a macarronada toda quinta e domingo!Aos domingos, a massa era feita em casa. Quase sempre talharim. Às vezes, lasanha. Molho de tomate e creme de leite à parte para quem preferisse o molho rosa. E muito queijo ralado.

A preparação era repetida a cada domingo .  Ela usava aventais feitos de panos de prato atoalhados. Ela mesma fazia o acabamento e as alças para fechar. Segundo ela, nenhum outro avental era tão bom!E  é verdade. Tenho um feito por ela até hoje e do qual não consigo me desfazer. É mesmo o melhor! A massa cuidadosamente preparada secava sobre os panos de prato espalhados em cada espaço livre de bancada na cozinha e na copa. Depois de cozida, era servida num pirex oval. E não há como descrever o gosto daquela massa e daquele molho! Gosto de aconchego, de carinho e de entrega que receita nenhuma é capaz de traduzir. Sentar àquela mesa aos domingos era sentir a segurança de  um afeto que nunca deixará de existir!

Minha filha e meu genro me deram  de presente de Natal uma máquina de fazer macarrão em casa. Hoje foi a estréia! Fiz a minha primeira massa caseira! Fettuccini com molho de tomate feito em casa e condimentado com pimenta calabresa, molho preferido dos meus filhos. Usei metade de farinha normal e metade de grano duro. Fiz hesitante, temendo não atingir a textura, espessura ou gosto esperados. Mas foi um  sucesso! Tenho ainda um longo caminho a percorrer até chegar ao ponto ideal. Mas a primeira experiência foi aprovada com louvor e, para minha surpresa, muito mais prazerosa do que imaginei!

E enquanto preparava, um tanto insegura, o meu primeiro macarrão, e enquanto espalhava a massa cortada pelos panos de prato enfarinhados na bancada,  não  deixei de pensar na D.Yvone um só instante. Perguntei-me o que ela pensaria... Acho que ficaria feliz!

Meu coração apertou, aqueceu e transbordou. E senti muita saudade dela...




quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Bolo de Reis.






O Dia de Reis era sagrado! A avó não abria mão de sua herança espanhola - nunca questionada, mas sem clareza de onde vinha - e reunia as mulheres da família para o que considerava a verdadeira profecia e  bons presságios de Ano Novo! Árvore de Natal desfeita, mesa arrumada. Na cozinha, a avó desenformava o bolo ainda quente. A receita era antiga e, embora tivesse sofrido algumas adaptações aqui e ali -  por conta do gosto e do bolso -  ainda era o melhor bolo de Reis de que se tinham notícias! A avó apareceu na sala para recolher os talismãs do ano anterior. Pois isso também era tradição na família: cada contemplada era responsável por guardar  o símbolo da graça alcançada até o ano seguinte. Nunca ousaram perdê-los. Houve um ano, contam, que a prima Dália não encontrava sua âncora. Reviraram a  casa de pernas pro ar e só após fervorosa promessa a São Longuinho a encontraram. A avó nunca soube disso, mas  aceitou, sem perguntas, a imagem de São Longuinho junto às imagens de Baltazar, Melchior e Gaspar na comemoração do Dia de Reis.

As casadas afastaram-se, torcendo secretamente por suas filhas, irmãs ou primas preferidas. Secretamente, pois a avó não permitia favoritismo a quem quer que seja. O destino era o destino.

As solteiras, então, rodearam a mesa, da mais velha para a  mais nova, como rezava a tradição. Este ano, com duas novidades:  tia Hortência, após um divórcio pra lá de escabroso, voltou como solteira para tentar nova chance de felicidade. As mais novas, no fundo, não achavam muito certo. Afinal, ela já tinha tido a sua chance e não deveria disputar de igual pra igual.Mas, como não se desafiava a avó, o jeito era torcer para que não recebesse nenhum talismã!

A segunda novidade era a pequena Angélica! Na flor dos seus 13 anos, despontava como a verdadeira flor angelical que o seu nome sugeria. Não havia menina mais doce e delicada!E vivia o seu primeiro grande amor. Sonhava acordada e vivia pelos cantos a suspirar pelo tal rapaz - Antonio - que nem sabia que a pequena existia. Mas amor é amor. E primeiro amor é mais mesmo  pra gente aprender a sentir do que pra ser correspondido. A pequena torcia as mãos e seus olhos  brilhavam, acreditando que, se tirasse a aliança no bolo, Antonio seria acometido de amor súbito, se declararia e ela viveria o seu conto de fadas. Ninguém ousava dizer-lhe o contrário.  Pois não tinham igual fé no poder dos Reis?

O bolo foi partido em fatias de espessura milimetricamente iguais, que só muitos anos de prática permitiam. Outro orgulho da avó. As fatias foram passadas uma a uma,  cada uma com gosto de um desejo ou  com uma esperança de sonho a realizar. Mas no fundo, no fundo mesmo, embora não assumissem uma para as outras, o que realmente contavam encontrar naquele bolo era o tal anel! E só o tal anel! O resto era só consolo para disfarçar a decepção.

Mas este ano, nem a tia Hortência nem a pequena Angélica. Rosinha tirou a âncora e já sonhava com a viagem inesquecível onde conheceria o homem de seus sonhos. Camélia recebeu a moeda. Recém formada no magistério, ansiava pelo seu primeiro emprego e, quem sabe, conhecer algum professor que compartilhasse do mesmo amor por ensinar? Clara, que nem  nome de flor tinha, e nem era de verdade da família, mas era como se fosse, tal a amizade que já unia três gerações, recebeu a aliança logo na sua primeira tentativa, acabando com a esperança das demais. Sorriu um sorriso iluminado, certa de que aquele seria o seu ano! E que depois de oito anos de namoro, Geraldo finalmente a pediria em casamento! Às outras, lhes parecia mais do que justo.

Com as sortes do ano devidamente seladas, entregaram-se apenas ao sabor inigualável daquele bolo que desmanchava na boca e unia no coração.

E assim foi-se mais um Dia de Reis. Mais um bolo de Reis. A avó sorriu e  pensou se no próximo ano não deveria esconder duas alianças. Decidiu que não.


(Publicado no grupo Minicontos em 29.01.2012. Palavra tema: ANEL)