domingo, 10 de janeiro de 2016

Macarrão feito em casa.






Minha sogra era uma cozinheira de mão cheia. Dessas de forno, fogão e água na boca. Nada de muito sofisticado, não. Mas aquele sabor inconfundível da comida caseira levada à perfeição ao longo dos anos, do marido e dos 4 filhos que só comiam a comida feita por ela.

Seus bolos eram lendários e aniversário não era aniversário  sem eles. Boleira oficial. Para todo gosto e de todo tipo. Às vezes inventava  recheios de frutas e coberturas de coco que causavam protestos. Não havia bolo melhor do que o  mesclado de  chocolate e chantilly. Dos deuses lamberem de joelhos e pedirem mais!

Os pastéis de Natal também eram sua exclusividade. Dava um trabalhão moer todas as frutas secas e embeber, um a um, no mel . Ninguém tinha muita paciência e, depois de um tempo, ela era a única a  manter a tradição, religiosamente, Natal após Natal,  e fornecer para o resto da família. O sabor era forte e nem todos gostavam. Mas como pensar em Natal sem os famosos calzunos?

Mas a sua marca registrada era mesmo o macarrão feito em casa! Como boa descendente de italianos, fazia a macarronada toda quinta e domingo!Aos domingos, a massa era feita em casa. Quase sempre talharim. Às vezes, lasanha. Molho de tomate e creme de leite à parte para quem preferisse o molho rosa. E muito queijo ralado.

A preparação era repetida a cada domingo .  Ela usava aventais feitos de panos de prato atoalhados. Ela mesma fazia o acabamento e as alças para fechar. Segundo ela, nenhum outro avental era tão bom!E  é verdade. Tenho um feito por ela até hoje e do qual não consigo me desfazer. É mesmo o melhor! A massa cuidadosamente preparada secava sobre os panos de prato espalhados em cada espaço livre de bancada na cozinha e na copa. Depois de cozida, era servida num pirex oval. E não há como descrever o gosto daquela massa e daquele molho! Gosto de aconchego, de carinho e de entrega que receita nenhuma é capaz de traduzir. Sentar àquela mesa aos domingos era sentir a segurança de  um afeto que nunca deixará de existir!

Minha filha e meu genro me deram  de presente de Natal uma máquina de fazer macarrão em casa. Hoje foi a estréia! Fiz a minha primeira massa caseira! Fettuccini com molho de tomate feito em casa e condimentado com pimenta calabresa, molho preferido dos meus filhos. Usei metade de farinha normal e metade de grano duro. Fiz hesitante, temendo não atingir a textura, espessura ou gosto esperados. Mas foi um  sucesso! Tenho ainda um longo caminho a percorrer até chegar ao ponto ideal. Mas a primeira experiência foi aprovada com louvor e, para minha surpresa, muito mais prazerosa do que imaginei!

E enquanto preparava, um tanto insegura, o meu primeiro macarrão, e enquanto espalhava a massa cortada pelos panos de prato enfarinhados na bancada,  não  deixei de pensar na D.Yvone um só instante. Perguntei-me o que ela pensaria... Acho que ficaria feliz!

Meu coração apertou, aqueceu e transbordou. E senti muita saudade dela...




2 comentários:

  1. Que bonito, Maria Alice! Você sempre me emociona quando puxa pela memória familiar... também tenho lembranças assim e sei perfeitamente o que passou pela sua cabeça fazendo a sua primeira massa (da vida e do ano!) Auguri e beijos!

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  2. Ai, Zelia... São tantas memórias lindas que as vezes tenho medo de perder... E ai dá essa vontade de sair registrando!!! Adoro o seu apoio!!! Bjs

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