quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Carta para Marcela.

Cecela:

Eu sei que hoje o dia deveria ser só seu. E até é. Em parte. Porque esse dia, na verdade,  é nosso. Egoisticamente, sem qualquer pudor, apodero-me do seu dia porque, nele, no seu dia, no dia 21 de novembro de 1974, no dia em que você nasceu, nasci também. Como tia pela primeira vez. Como sua tia.





O seu nascimento foi um dos momentos mais transformadores da minha vida. Das nossas vidas. De todos nós que te amamos. E que te esperamos tão ansiosamente. E que te recebemos com o amor maior que cabia em nós. Amor que nem coube. Transbordou. Ainda transborda. Todos os dias.

Quando eu soube que você ia chegar, eu estava no programa de intercâmbio nos EUA. Recebi a notícia "oficial" POR CARTA ESCRITA PELO SEU PAI!!! Acredita?? Extra-oficialmente, por cartas da sua mãe e da vovó. Eu fiquei tão feliz!!! Tão feliz!!! E te trouxe roupinhas de bebê e, pasme, fraldas descartáveis, que ainda não estavam disponíveis no Brasil. Poucas, é verdade, pois era o que dava para acomodar na mala, mas um pouquinho deve ter ajudado a sua mãe.

Você chegou numa quinta-feira. Que quinta-feira feliz! Seu avô Darc, por exemplo, subiu correndo as escadas do Silvestre pra te conhecer. Vovó Ieda preparou a sua coleção de vestidinhos bordados. Os mais lindos que já vi.  Tia Eli preparou a notificação do seu nascimento. E nós todos não contínhamos a nossa alegria pela sua chegada. Acho que todo mundo que a gente conhecia sabia que você tinha nascido. Acho que até quem a gente nem conhecia.





E você era tão linda... Moreninha. Olhar atento, observador. O mesmo olhar atento e observador (e crítico!) que se tornou a sua marca registrada.

Acho que fui te ver TODOS OS DIAS durante as primeiras semanas. Não me cansava de olhar aquela bebezinha linda! Minha sobrinha! Minha primeira sobrinha! Adorava ajudar a sua mãe. Adorava cuidar de você. Lembro-me da formatura da sua mãe, apenas algumas semanas depois do seu nascimento. Seu pai, vovó e vovô foram à cerimônia e sua avó Nair ia ficar com você. Fiquei junto. E tinha certeza de que saberia cuidar de você melhor do que ela (cá entre nós, que nem ela e nem seu pai me leiam, cuidava melhor mesmo!)






Com você, conheci esse universo inesgotável das emoções de ser tia. Você me ensinou esse amor que é fruto do amor entre irmãs e que, automaticamente, genuinamente, espontaneamente, se transfere para aquele serzinho frágil e dependente. Mas um amor que, aos poucos, toma forma única, pessoal, independente. E acha a sua própria forma de expressão e emoção.  Amor que cresce e constrói laços, afinidades, memórias.

Sua mãe foi muito generosa nesse sentido. Deu-nos livre acesso e permitiu, sem restrições, que fizéssemos parte da sua vida. Hoje acho que ela era louca. Ou irresponsável. Ou ambos. Porque te levávamos pra cima e pra baixo. De ônibus, à praia, ao circo, e onde mais quiséssemos. E você, pequenininha, se agarrava no nosso colo. E eu derretia de amor...

Com você vivemos todas as primeiras vezes: primeiro banho, primeira papinha, primeira risada, primeiro dentinho, engatinhar, andar, primeiras palavras, primeiro aniversário, primeiro dia de escola (fomos em comitiva!), primeira festa junina, primeiros, primeiros, primeiros! É bem verdade que tivemos que pagar alguns micos também. O mais traumático era empurrar o carrinho vazio pela General Glicério, com as pessoas se virando pra ver o bebê dentro e não ter bebê dentro. O seu carrinho de bebê ficava na casa da vovó, porque era puxado para a sua mãe empurrá-lo na ladeira em que você morava. Na hora do seu passeio, uma de nós levava o carrinho até a descida da Luis Catanhede. E, quando acabava o passeio de Sua Majestade, levávamos o carrinho  - vazio - de volta. Nada divertido!

Mas nada, nada supera a emoção da primeira vez em que você me chamou de Ticinha! Foi na sua casa. Em alto e bom tom. Desse jeitinho certinho com que você pronunciava cada sílaba! TI-CI-NHA!! Meu Deus! Quase morri!!





E você foi crescendo, crescendo, crescendo. E tornando-se essa pessoa tão especial. Tão opinada. Com aquele olhar apertado de quem está elaborando uma nova teoria da relatividade. E tão cheia de surpresas! A maior pesquisadora da internet. A que transita entre sanduíches decorados, bolos confeitados, aulas de árabe e nem sei mais o quê.

Companheira! Ajudou tanto com a minha primeira casa... Esperava comigo a entrega dos eletrodomésticos e móveis. E foi, junto com as suas primas, a minha primeira hóspede! Fizemos bons passeios por   Brasília.  Compramos armações de óculos falsificadas, conhecemos bijuterias de sementes. E aprendi sobre design. Fico CHOCADA com você e seus conhecimentos de arquitetura e decoração de interiores! De onde veio isso??? E adoro quando a gente conversa pelo telefone! Porque você sempre tem novidades! Sempre tem algo que me deixa muda do outro lado. Porque você é sempre imprevisível!

E então, veio o Zé Renato... E vieram os amorecos... Amorecos lindos !! Amorecos deliciosos!! Tales e Laurinha!! Mais uma primeira vez: nossos primeiros gêmeos! Amor multiplicado que a  gente nem sabe como faz pra caber. Mas cabe. Sempre cabe. E sempre cresce.

E hoje, Cecela,  no dia 21 de novembro de 2019, no dia em que você comemora 45 anos, eu desejo que todas as felicidades do mundo sejam suas. Porque você merece TODAS e mais! Porque eu torço para que a sua vida seja colorida, suave, venturosa e surpreendente! Porque eu desejo que você realize tudo o que sonha!

E hoje, Cecela, no dia 21 de novembro de 2109, no dia em que você comemora 45 anos, eu agradeço você ser a minha primeira sobrinha! Agradeço você ter me ensinado esse amor transformador!

E hoje, Cecela, no dia 21 de novembro de 2019, eu comemoro, emocionada, meus 45 anos da Ticinha que eu absolutamente AMO ser!! !!

Amo você. Assim. Tudo.

Feliz aniversário! Pra você! Pra mim! Pra nós!

Ticinha.