domingo, 24 de janeiro de 2016

Honestidade e almas penadas.

"Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste País, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da igreja católica, nem dentro da igreja evangélica. Pode ter igual, mas eu duvido. (Luiz Inácio Lula da Silva - 20/01/2016)

As hipérboles do ex-presidente Lula já são conhecidas. Os "nunca antes na história desse país" repicam já em tom jocoso e desgastados pelos conteúdos esvaziados.

Ideologias à parte, denúncias à parte e leviandades à parte, a infeliz declaração sobre a sua honestidade acima de todos proferida na última quarta-feira afronta e denuncia patologia - grave - sobre a percepção de sua auto imagem.

Honestidade é um valor estreitamente ligado aos princípios da integridade moral, justiça e verdade. A filosofia discute amplamente -  e sob diversas luzes - a complexidade dessa "qualidade". Mais ainda, discute se honestidade é nata ao homem ou resultado de sua interação com a  sociedade onde se insere.

O consenso parece ser de que honestidade reflete, sim, os valores éticos e morais de uma determinada sociedade e, portanto, podem variar para refletir o que é aceitável ou praticado por aquela sociedade em particular. Mais além, uma mesma sociedade pode flexibilizar o conceito em alguns sub núcleos e ser mais ou menos permissiva com algumas práticas. Mas coerência é necessária e mandatória para regulamentar a subjetividade.

Parece também consensual, infelizmente, que honestidade tenha sido  relativizada pelos Estados, ao longo da História, como entidades à parte e separadas das sociedades para as quais governam. Em geral. Inclusive e principalmente no Brasil. Digo principalmente porque não me interessam os Estados que não me afetam. Esse é o  Estado que  me afeta.

Mas ainda assim, ainda que com elasticidades permitidas, uma vez  definidas e regulamentadas, não há honestidade maior ou menor. É ou não é.

O ex-presidente Lula e o partido que representa - incluindo-se ai membros, parceiros, aliados, apoiadores e defensores - justiça seja feita, não ditaram os parâmetros  tão frágeis que a nossa história estabeleceu como honestidade no exercício da política. Herança maldita! Mas que, em alguns casos já comprovados, sentenciados e punidos, foi expandida, estendida e aprimorada.  Isentar-se dessa co-responsabilidade - ainda que por omissão -  é inaceitável!

A indignação aumenta à medida em que se torna  evidente que a  sociedade aquém do Estado contesta e repudia os valores adotados para as práticas politicas. Não são mais valores aceitos ou permitidos. Não há mais consenso para a relativização da honestidade. A sociedade brasileira clama por um valor único  que a traduza  em todas as esferas. Isso tanto é verdade e entendido, que a declaração do ex-presidente já traz para a infeliz comparação entidades religiosas fora do contexto politico. Ao colocar-s fora do exclsivo ambiente político, entende-se que os valores mais amplos passam a servir omo referência.

Ainda que nenhuma das tantas frentes de denúncias o envolvendo sejam comprovadas - o tempo e a justiça dirão -  a arrogância do ex-presidente demonstra o seu distanciamento dos "menos favorecidos" que ele insiste em dizer  defender. Ao colocar-se acima de todos, em superlativos incabíveis - e até agressivos -  ele desconsidera os milhões de brasileiros que, apesar de tantas adversidades, praticam a honestidade como um valor não questionável. Brasileiros que passam fome, mas não roubam. Que privam-se de pequenos luxos para pagar os seus impostos. Que vencem suas dificuldades com criatividade, mas não com inverdades. Que aceitam o pouco que lhe  é dado - por direito -  com resignação. Que não perdem a fé e esperança.? No quesito honestidade, uma vez estabelecidos os parâmetros, não há mais ou menos. Tem que ser igual. Ou não é. A única linha divisória permitida é ser ou não honesto. Baseado em que parâmetro, portanto, o ex-presidente se coloca acima de nós, indivíduos e cidadãos honestos?

Mas o que mais impressiona na infeliz declaração  - e aponta para a patologia mencionada no inicio da minha reflexão - é a comparação do ex-presidente com instituições e não com indivíduos. Sua equivocada auto percepção o coloca como entidade verdadeiramente acima desse plano terreno.

Não é por acaso, portanto, que ele utiliza o plano espiritual da essência humana  para estabelecer a infeliz comparação. Alma é fora do terreno, fora do corpo, fora da matéria. Alma é proximidade com o divino.

Das duas uma: (1) ou Santo Lula é realmente um perseguido e injustiçado enviado de Deus   ou  (2) já percebeu que sua matéria está condenada e o que lhe resta como esperança de salvação está no espiritual.

Seja o que for, nossa política nefasta está super lotando o limbo espiritual com almas penadas vagando a esmo em busca de alguma luz...








Nenhum comentário:

Postar um comentário