sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O Tablado. 65 anos de mágica teatral.







A primeira peça de teatro a gente nunca esquece!

 A minha foi O Rapto das Cebolinhas, de Maria Clara Machado, encenada   num teatro dentro do Parque Municipal de Belo Horizonte, onde morei na minha infância.

Coronel, Maneco, Lucia, Gaspar, Florípedes. E o inesquecível Camaleão Alface!!! E as ainda mais inesquecíveis cebolinhas da Índia e seu chá milagroso! Esses foram os personagens que estabeleceram a minha relação de absoluta entrega à mágica do teatro!




Maria Clara Machado é a referencia absoluta do teatro infantil de qualidade!Que criança não se emocionou com o fantasminha Pluft e a menina Maribel? Ou com a bruxinha Angela de A Bruxinha que era boa? Enredos fantásticos que criavam identificação imediata com o universo infantil. Textos ricos cuja assimilação era plenamente correspondida. Emoções e conflitos familiares e empáticos. E montagens lúdicas, coloridas, envolventes. Respeito e consciência da importância do teatro na formação de habilidades e relações infantis.

O Tablado, o espaço criado em 1951, tornou-se o santuário desse universo. E da vivência e formação dos jovens que queriam se dedicar a essa arte.

Por coincidência  - ou não -  estudei ao lado do Tablado quando voltei para o Rio. O lugar exercia uma atração inexplicável! Ou plenamente explicável pelos interesses que desenvolvi mais tarde. Uma porta modesta, quase imperceptível numa pacata rua no Jardim Botânico. Sem luxo ou alarde. Um entra e sai de jovens com roupas não convencionais e ares de importância. E meu coração batia forte de curiosidade e vontade de descobrir o detrás daquela porta. Não sei dizer quantas vezes pulei o muro dos fundos da  escola para dar de frente com aquela placa sagrada: O Tablado.

Cheguei a cursar O Tablado por 6 meses. Cheguei retraída, ansiosa. Parecia estranho ocupar aquele espaço ao qual não pertencia. Intromissão solene, respeitosa. Na primeira aula, não quis participar de qualquer atividade. Observei apenas. Nas aulas seguintes, aventurei-me nos exercícios de expressão corporal, e fui, aos poucos, me integrando àquele ritual. Mas não consegui seguir. Entre uma escola academicamente muito exigente, treinos de vôlei e uma necessidade social intensa de adolescência, o Tablado simplesmente foi. Embora nunca tenha realmente ido! Muitas vezes me perguntei  o que teria sido seguir esse caminho...

Talvez ter escolhido a literatura tenha mantido o meu Tablado vivo. Talvez ter um filho de teatro seja a minha retribuição ao Tablado.  Mas nada referente ao Tablado é talvez. Se há uma certeza inquestionável é a sua importância jamais superada.

Hoje O Tablado completa 65 anos. Impossível contar quantos profissionais saíram daquela porta modesta. Ou quantas produções encantaram plateias! Ou quantas crianças foram tocadas pelos seus  personagens e tramas fantásticos!

Penso no Tablado e penso numa porta que apenas se entreabre e deixa vislumbrar pequenas porções de mágica. Como goles de  chá. Chá da Índia. Feito das cebolinhas que jamais  se deixaram raptar.

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