sábado, 6 de agosto de 2016

Foi bonita a festa, pá! Fiquei contente!

"Isso aqui iôiô...É um pouquinho de Brasil iáiá... Desse Brasil que canta e é feliz, feliz... É também um pouco de uma raça... Que não tem medo de fumaça ai ai... E não se entrega não!" (Sandália de Prata - Ary Barroso)

Nosso Brasil plural, diverso, desigual. Nosso Brasil de fortes contrastes geográficos, étnicos, culturais e sociais. Nossos vários Brasis - em multiplicações  incansáveis e impensáveis - que ainda aprendem a se conhecer e  conviver. Mas que se reconhecem e se unem num gigantesco fio invisível que alterna ódios e amores, orgulhos e vergonhas, desalentos  e esperanças. E esse fio,  quando esticado até a sua tensão máxima, quase sempre, como mágica, enrosca-nos em novelos macios e aconchegantes e nos desfia, sem pudor,  em surpreendentes e infindáveis sentimentos de emoções incontidas e alegrias incontroláveis! E  é essa  brasilidade aflorada  - espontânea e contagiante - que sempre revela o nosso melhor!

E o nosso melhor mostrou-se ontem - muito menos para o mundo e muito mais para nós mesmos. Os nossos espelhos reluziram  nossas imagens difusas e confusas, em identidades negadas, renegadas, contestadas e ressentidas. Resgatadas. Recompostas. Rendidas. E em altivez  majestosa.

Majestade garantida pelo andar majestoso de Gisele  na mais icônica passarela do mundo! Que me perdoem todas as demais passarelas e que me perdoem todas as demais  rainhas. Mas  depois da noite de ontem, só há uma passarela  possível e só há uma rainha coroada.  Maracanã e Gisele. Gisele no Maracanã.

Sem suntuosidade, mas com muita criatividade e originalidade ,  contamos quem somos e porque somos. Nossas misturas e nossas incoerências explicam-se na nossa história narrada sem romantismo, mas também  sem condenação. Nossas composições, nossas apropriações e nossas dívidas estavam todas lá. Sem exageros e sem poupanças. E em extrema elegância.

Nossas expressões culturais tão  variadas também tiveram o seu espaço justo e merecido. Entre tantas, destacou-se a nossa música, bálsamo pros ouvidos e pros corações. Tom, Chico, meu Chico, Caetano, Gil, Jorge Ben Jor,  Elza Soares - diva!, Zeca Pagodinho, Marcelo D2, Ludmilla, Marcos Valle e , sim, Anitta. Porque somos todos esses ritmos. E somos todos esses ritmos com competência e excelência. Do Hino Nacional intimista combinando o samba e o clássico - uma das versões mais emocionantes de todas as versões! -  às baterias ritmadas das escolas de samba , e até ao inesperado Gil/Caetano/Anitta.

E talvez "inesperação" seja a palavra que define a Rio 2016! De tudo o que se pudesse esperar, brilhou o inesperado! O que não faz sentido. O inexplicável. O inovador.

Inesperamos como palco para a diversidade. Para o encontro dos diferentes. Para a voz dos poucos ouvidos. Para a inclusão dos excluídos. Crianças com necessidades especiais, Lea T, delegação de refugiados.

Inesperamos com o símbolo da paz adaptado, com os anéis olímpicos absurdamente criativos, com a exuberância da natureza que precisa de tanto cuidado.

Inesperamos com a pira radiosa e com - pela primeira vez em toda a história das Olimpíadas - uma segunda pira "para o povo"!

Inesperamos com a descontração informal e transgressora!  E tão apaixonada! E tão cativante!

Inesperamos com o calor, com o brilho, com as luzes, com as cores, com os sons, com as danças, com a grandiosidade luminosa que não coube dentro do Maracanã!

Inesperamos com o reconhecimento de que o verdadeiro atleta não é apenas o que acumula vitórias, mas sim o que pratica grandezas. Esse reconhecimento se fez presente nas merecidas homenagens aos  atletas que escrevem a nossa história esportiva dentro desse valor. Salve Vanderlei!

Inesperamos porque realmente nos surpreendemos com a nossa capacidade realizadora! Nosso orgulho confinado escapou descontrolado e permitiu-se vibrar e sonhar!

Inesperamos porque  nos vimos! E o que vimos foi o enorme potencial para revertermos a nossa precária condição e condenação.

No sol olímpico que acendeu a nossa chama, uma nova esperança arde recuperada e orgulhosa. E com a certeza de que somos mais, muito mais e maiores do que a pequeneza a que tentam nos reduzir. Pequeneza que, equivocadamente, assumimos como nossa. Mas que , definitivamente, não faz parte de nós.

De tantas imagens que, sei, serão inesquecíveis, escolho cinco. Cinco imagens que talvez apontem novos caminhos para nosso futuro mais justo, inclusivo, respeitoso e conciliador.















3 comentários:

  1. Muito bem descrita a emoção que também senti! Parabéns Alice!!��

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  2. Muito bem descrita a emoção que também senti! Parabéns Alice!!��

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  3. Concordo! Bela descrição! O resgate de tudo que é de melhor...a escolha das músicas e o sentido de cada uma delas...demais...A formação de nosso povo...indios, brancos, negros, imigrantes...o trabalho (tão bem simbolizado na música construção)...14 bis...e deu orgulho...somos um povo que não tem medo de fumaça! Até mesmo as vaias ao Temer enriqueceram o cenário! Muito bom!

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