Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
(Ricardo Reis - 1933)
Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, escreveu o poema acima em 1933. Entre tantos e tantos e mais tantos e outros tantos poemas absolutamente geniais de FP, escolhi esse como o meu preferido. Desde a primeira vez que o li. Leio, releio, me encanto. Repetidas vezes. Nunca o esgoto. Nunca chego perto do seu sentido final, revelado, decifrado. E surpreendo-me com a abrangência densa e profunda que apenas seis versos provocam.
Ontem, ao acompanhar as várias competições do segundo dia da Rio 2016, e em particular o pífio desempenho da seleção masculina de futebol, esse poema me veio imediatamente à cabeça. Assim como me veio o conceito de grandeza no esporte.
A história está repleta de bons atletas que nos têm presentado com momentos e emoções inesquecíveis com suas conquistas e feitos quase inacreditáveis!
Mas há uma diferença brutal entre ser bom - ou até ótimo - e ser grande. Porque ser grande é atitude, determinação e apreciação que independem de resultados refletidos em medalhas ou títulos.Ser grande é natural, vem de dentro, é espontâneo. Existe em estado bruto e latente, podendo ser lapidado à quase perfeição, mas jamais forjado na sua ausência.
E o ser grande é o que verdadeiramente emociona e impulsiona. A paixão que o esporte provoca só frutifica pela grandeza compreendida e espelhada. Só a grandeza ecoa. Só a grandeza transforma.
Os exemplos são inúmeros! E cada um de nós tem o seu próprio repertório. Ontem mesmo, entre tantas disputas duras, cito a derrota do tenista Novak Djokovic - primeiro no ranking mundial e favorito ao ouro olímpico - diante do argentino Del Potro logo na primeira rodada. No choro incontido e decepcionado, o agradecimento à torcida, o abraço reconhecido no oponente e a certeza de ter feito o seu melhor. Ainda que o seu melhor não tenha sido suficiente. Isso é grandeza.
Em contrapartida, nosso time de futebol masculino em outro baixíssimo desempenho, apático e entregue, com ares de superioridade enfrentada, recolheu-se na sua arrogância intocável, demonstrando despreparo, imaturidade, desrespeito e soberba. Valores contrários e estranhos à grandeza. Desvalores da pequeneza anti-esportiva. A questão não é ganhar, perder ou empatar. A questão é a atitude diante de cada uma das condições. A questão é fazer o melhor possível e prestar contas desse melhor com tranquilidade e humildade. Triste ver o que já foi nosso orgulho nacional se afastar, em passadas largas, desse ideal nobre e exemplar e se ancorar na marra enfrentadora.
Volto a Ricardo Reis. E à sua descrição tão precisa de grandeza e do que efetivamente reflete brilhos de luas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário