sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Finitude.







Já era fim de tarde quando a chuva cedeu  e ela finalmente entrou no mar. Estranhamente, a água estava morna e convidativa. Mergulhou fundo e profundo. Por alguma razão que não sabia explicar, a água salgada despertava a sua consciência. Não a consciência dos sentidos mais urgentes e ávidos, mas dos sentidos mais caprichosos e esquivos. Mergulhou outra vez mais fundo e mais profundo. Sentiu cada parte do seu corpo entregar-se em relaxamento curador. Alerta, embeveceu-se com o espetáculo à sua volta. Dia e noite misturavam-se em tons e sons opostos em harmonia impensável. No céu, transformado em um imenso tabuleiro de xadrez, nuvens brancas e cinzas disputavam seus espaços preguiçosas e lentas. Marolas treinavam, à exaustão, movimentos repetidos que as promovessem a ondas. O sol, já cansado, irradiava, sem esforço, apenas no topo da montanha que sobressaia-se, verde e exuberante, na opacidade do final do dia. O tempo parou. E diante da grandiosidade  da natureza mutante e imprevisível, o conceito de finitude lhe pareceu absolutamente incompreensível.

(Publicado no grupo Minicontos em 07.02.2016. Palavra tema: FINITUDE)

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