domingo, 21 de fevereiro de 2016

A Garota Dinamarquesa. A difícil arte de ser quem se é.

"Ontem à noite tive o sonho mais lindo. Sonhei que era um bebê nos braços de minha mãe. Ela me olhava. E me chamava de Lili." 

(Lili Elbe em A Garota Dinamarquesa)








Tom Hopper (O Discurso do Rei e Os Miseráveis) retorna às telas após 3 anos com a belíssima  adaptação de A Garota Dinamarquesa,  romance de estreia de David Ebershoff.


Baseado na biografia do casal de pintores Einar  Wegener (Eddie Redmayne) e  Gerda Wegener (Alicia Vikander)  o filme , com muita delicadeza e poesia, conta a transição - não sem sofrimento -  de um casamento  ativo e funcional para os conflitos individuais quando o  estranhamento de gênero veio à tona.



Einar Wegener, reconhecido  paisagista, num episódio casual de substituir uma modelo de sua esposa  retratista -  e, para isso, vestir suas roupas -  descobre a sua Lili aprisionada em seu corpo masculino e inicia o seu longo processo de redesignação de gênero. Einar foi a primeira pessoa a se submeter à cirurgia transgênica na História.  Os procedimentos foram realizados em Dresden, na Alemanha, cidade banhada pelo Rio Elba, de onde Lili emprestou o seu sobrenome Elbe.

História polêmica e ousada para qualquer época! O que dirá nos anos 30!  Mas Tom Hopper, acertadamente, evita o protagonismo do preconceito social e desconhecimento da comunidade científica e prioriza os aspectos mais pessoais e emocionais da relação Einar/Gerda/Lili.

A cuidadosa ambientação e o  primoroso figurino garantem verossimilhança e trazem a poesia tirada das nuances das tintas e telas. A delicadeza dos tecidos dão sustentação ao gradual crescimento de Lili. Pode-se quase sentir a leveza e as texturas que trazem Lili à vida!

Mas o que mais emociona é a cumplicidade e atos de amor entre Einar e Gerda! De parceiros e amantes à amizade e apoio  às transformações individuais, Gerda e Lili transbordam amor verdadeiro e incondicional. Ainda que em meio a turbulências, dúvidas, angústias, ressentimento, tristezas e medos.



Se por um lado  a imposição da presença de Lili termina com o relacionamento amoroso, por outro lado, é o agente impulsor da carreira de Gerda, até então estagnada e ofuscada .






O filme, no entanto, não teria metade de sua potência sem as atuações absolutamente brilhantes de Eddie Redmayne e Alicia Vikander! A conexão, química e sintonia entre o dois atores são os grandes responsáveis pela elegância, empatia e emoções transferidas! Que talentos! Redmayne, validado pelo Oscar 2015, brilha! Einar e Lili se alternam como personalidades distintas, completas e densas. Vikander, por seu lado,  imputa fortaleza impressionante! É ela que conduz a linha tênue e tão controversa! É ela, no fim, a verdadeira Garota Dinamarquesa!

A cinebiografia chega com uma década de atraso e após,  inclusive, da tentativa  frustrada de Nicole Kidman viver Einar/Lili. Mas o atraso foi providencial, pois o filme chega atual em tempos de discussões   mais maduras sobre identidade de gênero  e orientação sexual. Os esforços globais  por reconhecimento, direitos e igualdade  já contabilizam alguns avanços.

Nesse sentido, o filme também gerou críticas por não abrir espaço para atores transsexuais. A indústria cinematográfica já é , reconhecidamente, bastante restritiva às minorias. Para transsexuais, então, as oportunidades são ainda mais limitadas. Vale a denúncia. Vale a crítica. Mas  confesso não conseguir imaginar ator mais perfeito para o papel! A verdade é que Redmayne empresta traços andróginos que incorporam e convencem.

 Um filme intenso e belo. E que pontua um dos marcos da luta de gênero e sexualidade.

4 comentários:

  1. Que bom ler você que me diz o que eu senti rs. A delicadeza é o sobrenome desse filme.

    Do casal, dos amigos, do médico ...

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    1. Que bom que sentimos igual!!!! Delicadeza é mesmo a palavra que sintetiza o filme! Bjs

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  2. Respostas
    1. Não me surpreende sentirmos igual... Mas precisamos colocar na pauta!!! Bjs e saudades master!!!

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