"É uma história, seu Ruço. É só mais uma história." (Pé na Cova - 07.04.2016)
Irajá, bairro da região norte do Rio de Janeiro e originalmente habitada pelos índios tupinambás, significa, na linguagem nativa, "o mel brota".
E foi nesse subúrbio típico e caricato que Miguel Falabella decidiu abrigar personagens inusitados, inesperados, improváveis e protagonizar histórias que jorraram mel aos borbotões!!
Tinha tudo pra dar errado. Um bairro típico sem qualquer qualquer glamour ou contrastes entre riqueza ou pobreza extrema. A morte como pano de fundo, tratada com irreverência e uma naturalidade que causa estranhamento. Composições familiares e sociais atípicas e beirando o absurdo. A começar pelos nomes. A seguir com as "anormalidades". A continuar com o humor calculado e medido para também permitir as emoções incontroláveis dos relacionamentos humanos. Mas, contrariando o risco assumido, deu muito certo!
O sucesso? Um texto primoroso, cuidadoso, coerente e amarrado. Atores dedicados e integrados. E uma generosidade afluente e transbordante que permitiu espaços e brilhos. Até - e principalmente, a luzes cadentes.
Toda a diversidade do mundo num pequeno fim de mundo do Irajá! Escancarado sem filtro e sem tutela ou didatismo. Apenas no convívio natural e que precisa, sempre, sem cessar, novos olhares e acomodações. As vezes com algum esforço, mas sem o julgamento de que sejam aberrações. Os universos plurais com seus espaços garantidos. No bem e no mal. Nas transgressões e nas correções.
Ruço e Darlene serão personagens que ficarão na história. Pela sua simplicidade sábia! Pela intuição muto mais do que pela razão. Pelo amor que aceita e abraça. Sempre e apesar de. Pelas vulnerabilidades expostas sem medo ou defesa. Pelos sentimentos que comandam a vida que vale a pena viver.
Em tempos de posições, verdades e julgamentos tão extremos, Irajá foi bálsamo. Em tempos de intolerâncias e ódios separatistas e inconciliáveis, Irajá foi calmaria. Em tempos de lutas - ainda - por liberdades individuais e garantia da convivência com as diversidades, Irajá foi acolhida serena.
Vai deixar saudades. Principalmente a última temporada, em que Falabella se despediu de Marilia em cenas de emoção verdadeira e contagiante! Iluminado e inspirado, tentando perpetuar todo o brilho possível para a estrela que se apagava.
Uma história é uma história. É só uma historia. Mas há histórias e histórias. Essa valeu a pena!
Os índios sabiam tudo! Brota mel no Irajá! Quem dera brotasse um pouquinho de Irajá em todos nós...
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