Ali ali só ali se se alice ali se visse quanto alice viu e não disse se ali ali se dissesse quanta palavra veio e não desce ali bem ali dentro da alice só alice com alice ali se parece (Paulo Leminski)
terça-feira, 13 de junho de 2017
Santo Antonio.
Minha mãe nasceu no Dia de Santo Antonio. E duvido que o santo casamenteiro tenha/tenha tido/venha a ter maior devota!
Não há como dissociar a minha mãe do santo. Sua firme convicção no casamento pontuou as nossas vidas e tornou-se sua marca registrada. E quem frequentou a nossa casa na infância e na adolescência sabe bem a força da devoção!
É bem verdade que numa casa de 4 mulheres, um monte de primas e dois montes de amigas, a pauta casamento não era de todo estranha ou adversa. Muito pelo contrário! Buscar o amor e sonhar com o "felizes para sempre" fazia parte do imaginário feminino, ainda que nem sempre levado a tal extremo!
Minha mãe ia à Igreja de Santo Antonio religiosamente todas às 3ª feiras. Na mão, a lista de todas as casadoiras. A lista tinha hierarquia: primeiro as filhas! As demais vinham por ordem de idade. Claro que a ordem foi alterada após os nascimento das netas que, justificadamente, passaram à frente ainda bebês. Afinal, sangue é sangue! Meu pai costumava dizer que o santo, ao ver a minha mãe entrar na igreja, se escondia e mandava dizer que não estava! Estava exaurido de tanto pedido!
E as simpatias? A do papel no pires com água, a do santo afogado, a da fita vermelha, a do santo de cabeça pra baixo. Uma amiga da minha irmã mais velha tinha uma infalível: moer o rabo de uma lagartixa e jogar no colarinho da camisa do eleito. Tiro e queda! O coitado não tinha como escapar!
Apesar dessa influência tão determinante, a minha maior herança de devoção a Santo Antonio não veio da minha mãe, mas de uma amiga dela. D.Dulce. Querida D.Dulce! Conhecemos D.Dulce quando nos mudamos para São Paulo. Ela era viúva e tinha apenas um filho, casado com a minha prima Cristiana. Cristiana é a filha mais velha da tia Vera, para quem casamento também sempre foi assunto da maior importância! D.Dulce foi irremediavelmente contaminada pela combinação da minha mãe e da tia Vera. Sorte que gostava de mim e zelava pelos meus interesses! Uma vez, numa viagem a Salvador, saíram para visitar antiquários à procura de santos barrocos. D.Dulce não teve dúvidas: aproximou-se de uma imagem de Santo Antonio e, discretamente, arrancou o menino Jesus de seus braços e enfiou na bolsa. O menino Jesus veio pra São Paulo e pras minhas mãos! Dizem que a simpatia só tem valia se o menino Jesus for dado, jamais arrancado pela própria pessoa. D.Dulce já virou estrela, mas o menino Jesus arrancado sem cabeça e sem braços da imagem de Santo Antonio me acompanha até hoje!
Doces lembranças... E muito carinho e agradecimento pelo santo que hoje abençoa os 91 anos da minha mãe!
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