Fui a Brasília pela primeira vez em setembro de 1968.Meu pai nos levava para conhecer a nossa capital como presente de 10 anos. Íamos de dois em dois. Beth e Zeca já tinham ido, eu e Cristina fomos juntas e Andréa, por ser a última, foi sozinha alguns anos depois.
Já tínhamos voltado a morar no Rio nessa época e fomos de carro até Brasília. Não tenho muitas lembranças do trajeto, mas lembro de ser longe, muito longe. Tenho também duas cenas muito vivas na minha memória: ver de perto o Rio São Francisco e, ao entrar em Goiás, o meu pai parar o carro na beira da estrada e a gente ficar lá, pelo tempo que não sei precisar, observando os tucanos cruzarem os ares diante dos nossos narizes. Nunca esqueci a imagem daqueles tucanos.
Ficamos num hotel de frente para a Esplanada dos Ministérios. Uma vista espetacular da cidade que ainda se construía. Mas, aos 10 anos, Brasília e sua obscura importância ainda não me diziam muito.
Logo ao chegarmos, meu pai foi chamado para urgências de trabalho e passou os dias ocupado, enquanto eu e a Cristina nos munimos de gibis e, apesar dos apelos turísticos, preferimos ficar nos hotel lendo e jogadas na cama.
Ainda assim, lembro muito bem do jantar no restaurante da Torre com as luzes espetaculares da cidade vistas bem do alto. Lembro também dos passeios pelos marcos arquitetônicos devidamente registrados em poses fotográficas. (ps 1: ressentimento eterno pelo cabelo joãzinho que minha mãe me obrigava a usar) (ps 2: a Cristina vai me matar por publicar essas fotos!)
Mas a maior das lembranças foi a busca incansável do meu pai por um dos restaurantes, na sua opinião, dos mais inesquecíveis de Brasília! Procurou, procurou, procurou e quando, finalmente o encontrou, fomos, na maior expectativa, ao que seria o ponto alto da viagem. Casebre 13. Um casebre literal, com a entrada formada por tiras de plástico fazendo as vezes de porta. O lugar estava vazio, com os garçons sentados às mesas forradas com toalhas também de plástico, jogando conversa e o tempo fora. Deram um pulo ao nos ver entrar e, se tivéssemos ficado, dificilmente outra vez na vida seríamos servidos por tantos garçons ao mesmo tempo! Ainda guardo o olhar de incredulidade desapontada do meu pai. O episódio rendeu muitas risadas ao longo da história familiar . E foi, sim, o ponto mais alto da viagem!
Voltei a Brasília algumas vezes. Na adolescência, fui visitar uma de minhas melhores amigas, cujo pai havia sido transferido pelo BB. Já adulta, para compromissos profissionais com o meu ex-marido, com sorte simultâneos com o tempo em que a minha primeira amiga da vida - nos conhecemos desde o pré primário - morou lá. As últimas vezes foram há cinco anos atrás, para o batizado e primeiro aniversário dos gêmeos da minha sobrinha Marcela, nascidos em Brasília. Foi bom refazer o circuito turístico, com outro olhar, acompanhada da minha filha.
Tenho, portanto, com Brasília, uma relação construída pela afetividade. E, mais recentemente,pela moderada apreciação e reconhecimento pelo acervo arquitetônico. Prefiro assim. Pois trazer a nocividade da política para essa relação seria condená-la à frieza, distanciamento e inacessibilidade. Física e emocional.
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