Não tive sorte - eufemismo para talento - nas minhas experiências com a costura.
A primeira tentativa foi ainda solteira, assim que nos mudamos para São Paulo. As aulas eram com a Railda, na garagem da casa da minha prima Paula, em uma deliciosa vila no Jardim Paulista. Paula era craque na costura! Fazia coisas incríveis! Eu, um fracasso!Não usei uma só peça das poucas que consegui terminar.
Anos mais tarde, morando em Porto Rico, entrei em outro curso de costura. Comprei até a minha primeira máquina Singer! Begonia. Professora genial. Pessoa mais genial ainda! Mantinha seus horários sempre cheios e era difícil conseguir vaga. Duas de minhas amigas, profissionais da costura, já faziam aulas com ela. E como produziram costuras! Coisa sofisticada mesmo, com forros, brocados, e sei lá mais o que! Graças a Deus, éramos de turmas diferentes e nem precisei passar pelo constrangimento da comparação com as minhas tentativas frustradas e muito mal acabadas! O máximo que consegui usável foi um vestido de estampado nada modesto com uma fenda menos modesta ainda. Usei uma vez. Apenas para constar. E aposentei o vestido com amor próprio resignado! Definitivamente, não sou da costura.
Mas, ainda assim, mantenho a minha caixa arrumada e completa: tesoura, alfinetes, agulhas diversas, linhas de várias cores, dedal, carretilhas, fita métrica e até giz de marcação. E botões. Sou maníaca por botões. Troquei pouquíssimos ao longo da vida, mas preciso da segurança de ter todo e qualquer tipo no caso de necessidade.
Tenho comigo que uma caixa de costura é um item fundamental em cada casa. Quase um amuleto. Uma caixa onde cada coisa tem o seu lugar e sua função - e cuja função maior é consertar, costurar, pregar, arrumar - dá segurança de que tudo tem conserto! E que a integridade daquele lar - e todo o emocional envolvido nessa palavra - pode ser restaurado e preservado. Não se manuseia, portanto, uma caixa de costuras de forma casual ou descuidada. Há um ritual. Exige-se concentração. Atenção. E respeito.
Esse simbolismo explica a minha emoção ao ganhar de presente, há alguns dias, a minha nova velha caixa de costura. De madeira, com ramos desenhados na tampa, forrada de feltro, com porta-carretéis à moda antiga. Uma beleza! Beleza maior são as iniciais desenhadas no cantinho esquerdo dos ramos: CB. Consuelo Bomfim. Minha madrinha de crisma já falecida e sobre quem já escrevi por aqui.
Tia Consuelo fazia essas caixas. E essa é uma das últimas remanescentes. E me foi dada pela minha prima, num gesto que ela talvez não saiba o quanto significa!
Aposentei a minha velha caixa. Arrumei a minha nova. E, de repente, tudo parece melhor!
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