Ali ali só ali se se alice ali se visse quanto alice viu e não disse se ali ali se dissesse quanta palavra veio e não desce ali bem ali dentro da alice só alice com alice ali se parece (Paulo Leminski)
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
Silence of the lamb.
"Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, misere nobis. Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, misere nobis. Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, dona nobis pacem."
Em O Silêncio dos Inocentes, filme de 1991 e ganhador do Oscar das cinco principais categorias, o absolutamente maravilhoso Anthony Hopkins, apenas nos primeiros 15 minutos do filme, transformou o seu vilão Hannibal Lecter num dos mais aterrorizantes vilões da história do cinema. Enclausurado em uma prisão de segurança máxima, seus olhos, frios e psicóticos, propagam terror devagar e calculado. Hannibal percorre, com destreza aflitiva, a linha tênue entre a genialidade e a insanidade.
Não gosto da tradução em português. O Silêncio dos Inocentes retira o significado essencial de Silence of the Lamb. Afinal, cordeiro é uma fortíssima simbologia dentro do Cristianismo. Os hebreus sacrificavam os seus melhores cordeiros a Deus para remissão dos pecados. Jesus Cristo, o "Cordeiro de Deus", morreu em sacrifício supremo como maior prova do amor de Deus pela humanidade.
Enquanto acompanho, incrédula, as denúncias contra João de Deus, alterno ondas de profunda tristeza e incontrolável náusea. Abadiânia, contaminada, mistura toda a energia curativa e redentora à energia abusiva e destrutiva. O Templo da Esperança convertido em Circo de Horrores.
Ainda que muitos ainda duvidem - coisas que só a fé cega e burra, perdoem o pleonasmo, explica - não há como ignorar, desvalorizar e muito menos desqualificar as mais de 300 denúncias já recebidas. E muitas outras certamente ainda virão. O número já é o triplo dos quase 100 estupros e/ou tentativas de estupro do monstro Roger Abdelmassih, condenado a mais de 250 anos de prisão.
A orfandade espiritual é cruel. As fragilidades extremas que buscam acolhimento e proteção demoram a realizar a ruptura da confiança que prometia cura. De qualquer natureza. Qualquer uma. Todas. Coletivas. Individuais. As mais sofridas. As mais finais. Terminais.
Impossível não pensar nesse pesadelo sem associá-lo a Silence of the Lamb. João de Deus Hannibal, complexo, calculista, profundo conhecedor das fraquezas. Manipulador de energias voluntárias e inocentes. Doente. Demoníaco. Anjo negro. Curandeiro dos paradoxos. Charlatão de almas.
Impossível não pensar nessas mulheres abusadas, humilhadas e marcadas. Cordeiros. Sacrificadas. Cordeiros do deus invertido. Silenciadas pelo medo, pela vergonha, pela dúvida. Cordeiros. Solitárias, assombradas, angustiadas. Vozes inaudíveis diante do deus ruidoso. Submissas diante do opressor disfarçado em doação ao próximo.
Julgar o Silence of the Lamb é um ato de violência contra quem já foi tão violentado. Colocar em dúvida sua veracidade é validar atos de amoralidade. Minimizar a gravidade das ações é permitir futuras repetições.
Silence of the Lamb. Que salvador é quando esses silêncios se encontram nos tortuosos caminhos da voz... E gritam. E revelam. E desnudam. E colocam deus na sua real pequeneza e baixeza.
Quando cordeiros, por fim, quebram seu silêncio, deuses de barro ruem. E o mundo respira mais aliviado. Mais empático. Mais transformador. Mais energético. E a energia canalizada para o bem tudo pode!
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