sexta-feira, 14 de julho de 2017

Ah! Ça ira, ça ira, ça ira!








O Bastião de Saint Antoine foi construído por Carlos V em 1370, durante a Guerra dos 100 Anos contra a Inglaterra, com o objetivo de defender a entrada do bairro de Saint Antoine em Paris.

Era uma fortaleza retangular de 90 m de comprimento x 25 m de largura, com 8 torres de 30 m de altura cada, 2 pontes levadiças cercadas por um fosso coberto pelas águas do Sena e que davam acesso a 2 torres que guardavam o lado leste da cidade.

Internamente, a Bastilha tinha 3 andares: o andar superior abrigava as celas mais confortáveis; o andar térreo abrigava as celas comuns e, no calabouço, o espaço era apenas para se ficar de pé.

No século XV, a Bastilha foi transformada em prisão e, a partir do século XVII, recolhia os intelectuais e nobres que discordavam do regime político.

Em 14 de julho de 1789,  a Bastilha, um dos maiores símbolos do absolutismo francês, foi  atacada e incendiada até ruir. A Queda da Bastilha tornou-se o marco da Revolução Francesa e soprou os ventos de liberdade, igualdade, e fraternidade por toda a Europa.

A demolição oficial do que restou da edificação foi coordenada por Jean-François Palloy, que utilizou as pedras remanescentes para terminar a Pont de la Concorde. Não há como não sentir um certo arrepio ao pisar essas pedras quando se visita Paris e perpetuar a enorme transformação que elas simbolizam. As pedras reutilizadas mantêm o valor histórico enquanto relembram a sua importância. Não se esquece o que representou e o que permitiu.

Sempre me lembro dessas pedras diante dos graves fatos políticos que têm assolado a nossa frágil democracia. Meu filho, diante do meu repúdio aos ataques de destruição em manifestações populares sempre me lembra: 'Mã, você acha que na Tomada da Bastilha as pessoas ficaram gritando "as pedras da Bastilha, não!! Não destruam a Bastilha!!"? Ele tem razão.


Penso em Brasilia, a nossa Bastilha, ainda que sem qualquer glamour. E penso nos absolutismos e autoritarismos idiossincráticos e tão no contra fluxo dos ideais democráticos. Reis expostos. Reis nus. Reis pérfidos. Reis mergulhados em corrupção, favorecimentos, manipulações e conchavos e que relutam, com unhas, dentes e práticas escusas, a entregar o poder ao povo que verdadeiramente deveria detê-lo.

Penso em Brasilia, a nossa Bastilha torta, manca, aleijada, incapacitada, deturpada e contaminada. E árida, desértica, estéril de ventos de liberdade, igualdade e fraternidade.

E penso  na sua queda urgente e tardia. E penso se há/haverá alguma ponte que mereça ser construída com suas pedras remanescentes entre nós e eles para preservar alguma memória grandiosa. Que me perdoe Niemeyer, mas penso  que não.

Quando nossa Brasilia/Bastilha cair, que seja tragada pras profundezas do lago Paranoá.


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