Hoje acordei com 63 anos completos.
Quem me conhece sabe que nunca tive problemas com a idade. Passei dos 20 aos 30, dos 30 aos 40, dos 40 aos 50 e dos 50 aos 60 sem traumas. Com alguns sustos, claro. Mas sem traumas. Cada década é um pequeno susto. Não pelo o que ficou pra trás, mas pelo o que vem pela frente. Sempre acreditei que, se vivemos plenamente nossos tempos, o que fica pra trás é ganho. E não nostalgia. Nostalgia é um vazio incômodo pelo o que deixamos de viver. Nostalgia é diferente dos rompantes de saudades que sentimos. E que são bons de sentir. E que não nos deixam esquecer a nossa história.
Ter trinta anos foi o susto pelas responsabilidades do casamento e da maternidade. Ter quarenta anos foi o susto pela dosagem entre ser eu e ser as outras que eu tinha que ser. Ter cinquenta anos foi o susto de me resgatar fora do casamento e com os filhos independentes. E ter sessenta anos está sendo escolher, dentro do possível, com o que, como e com quem (con)viver. Inclusive a escolha pelos meus cabelos naturalmente brancos (aí, o susto foi dos outros! Não meu!)!
Os sessenta anos me têm sido relativamente leves. Prazeirosos. Cheios de humor. Plenos em novos aprendizados. Transbordantes de alegrias e orgulho de ver os meus filhotes trilhando os seus caminhos. Rodeados de jovens que me enchem de energia e compensação todos os dias.
Mas mesmo com essa aparente serenidade e aceitação do tempo que passa, jamais, em tempo algum, imaginei completar 63 anos em meio a tamanho caos social, político e humano... Mas escolho não falar, aqui e agora, sobre o caos . Escolho falar, aqui e agora, sobre as flores que brotam/têm brotado do caos.
Escolho falar da minha mãe, que aos 94 anos, tem (sobre)vivido bem, saudável, cuidada, amada!
Escolho falar dos meus irmãos que, em enorme parceria e cumplicidade, nos alternamos para dividirmos nossas preocupações e dificuldades!
Escolho falar dos meus sobrinhos que nos mantêm desafiados e antenados!
Escolho falar dos meus primos, de um e do outro lado, que têm sido um enorme alento e porto seguro!
Escolho falar dos amigos/amigas maravilhosos que tenho a sorte de ter. Amigos de longe, de perto, de antes, de durante, antigos, novos, cultivados, resgatados, adotados, descobertos, "reais", virtuais. Amigos que escutam. Ou que falam. E que falam outras línguas. Ou que riem junto comigo até a barriga doer. Ou que choram junto. Que ligam sistematicamente pra saber como estou. Que acompanham os programas bizarros aos quais assisto. Que leem os mesmos livros. Que mandam aqueles textos enormes que nem abro. Que discutem e criam polêmicas. Que mandam os links que você, sim, abre, lê e gosta. Que mandam fotos lindas. Que bordam, costuram, cozinham. E me inundam de fotos que começam a congestionar a memória do meu celular. Que me irritam de um jeito que nem sei dizer. E que me surpreendem de outro jeito que também não sei dizer.
Escolho falar dos artistas que são o único ar que nos fazem respirar e nos manter vivos. Artistas vivos e os eternos. Os das pinturas, os das músicas, os das palavras, os das telas, os das belezas que até machucam e fazem chorar. E que me fizeram companhia todos os dias desse último ano.
E, por fim, escolho falar dos meus filhotes. Do meu filho que, mesmo longe, me obriga a sair da minha zona de conforto. Que me dá ordens de "já sabe, né, mãe, de máscara, longe, não inventa!" Ou "Não tenho estrutura pra ver você ou o papai em risco". e que, às vezes, "Tá sem saco pra falar." E que, cada vez que me aparece na tela do meu computador, faz o meu coração transbordar. Ele é tão lindo! Ele é tão "gente"! E eu estou com tanta saudade de abraçar e beijar...
E da minha filhota linda. Meu facetime de todas as noites. Quietinha, faz a sua vida. E, às vezes, me joga bombas. Joga, não. Comunica. E eu, quietinha, engulo. Não dá pra contrariar. E que me empresta a Nina. E que se preocupa. E faz minhas compras online. E organiza o que tem que organizar. E finge, e eu quase acredito, que está interessada nas minhas novidades. E vem me visitar na garagem. e eu estou com tanta saudade de abraçar e beijar...
E foi assim, então, que completei 63 anos.
Completei 63 anos com o meu rosto coberto.
Completei 63 anos cantando parabéns ao lado da minha mãe.
Completei 63 anos recebendo carinhos de todos os lados. Mensagens e chamadas que foram recebidas como beijos e abraços. Necessários e apreciados.
Completei 63 anos tão longe e tão perto. Em tempo e espaços reaprendidos. Adaptados e valorizados.
Completei 63 anos com esse mimo da minha filhota e do genro, entregue em drive thru na garagem: flores lindas, um jantar especial (massa recheada de cebola caramelizada com molho bechamel e até queijo ralado!), e cupcakes, com velinhas e tudo pra eu cantar parabéns pra mim! O jantar de aniversário mais especial que tive em 63 anos!
E foi assim, então que completei 63 anos...
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