quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Cristina. A irmã sanduíche.

Cristina é filha do meio. Filha sanduiche. A terceira de cima pra baixo e terceira de baixo pra cima. 

Dos 5 filhos, foi, disparado, o bebê mais lindo dos meus pais!  Que olhos! Que bochechas! Que rostinho iluminado! 




Aliás, sempre foi linda! E cativante. E sedutora. Por onde passava, deixava rastros. E um séquito de apaixonados. Sociável, centro das festas, imã das atenções. 




Foi o xodó dos irmãos mais novos da minha mãe, que, durante um período, moraram conosco. A irmã mais nova da minha mãe, tia Guanahyra, em especial, adorava a Cristina! E levava-a pra cima e pra baixo, enquanto namorava o que veio a ser o seu marido, nosso querido tio Abelardo!  

Dos 5 filhos, tinha, também, o gênio mais forte. E põe forte nisso! Decidida, questionadora, confrontadora. Era a que enfrentava, a que abria os caminhos, a que se impunha. E metia medo. Mesmo. Nossos amigos tinham medo dela. 

Acho que ela sempre foi muito mais velha do que eu. Muito mais do que os 2 anos e 3 meses que nos separam. Porque ela sempre foi mais à frente! E com presença mais forte. E muito mais segura e dona de si. Eu aproveitava as brechas. As festas que ela me deixava ir. Os amigos que ela deixava chegar perto. E aproveitei! Muito! 

E como era safa! Um das minhas melhores lembranças da nossa adolescência foi uma festa a que fomos na Gávea. Casa de uma amiga minha do Teresiano. Fumávamos escondido nessa época e nossos pais foram nos buscar. Entramos no carro e a mãe logo sentiu o cheiro do cigarro. A mãe disse :"Maria Alice, fala perto de mim!". Eu com aquele bafo de cigarro. "Cristina, fala perto de mim"! Cristina com o hálito limpo. Tinha mastigado folhas do jardim antes de entrar no carro. Resultado; eu fiquei de castigo e ela lépida e solta. Ela era assim. 

É , entre nós, a mais parecida com o DNA da família do meu pai. O que quer dizer isso? Quer dizer que é a mais irônica, ácida, debochada, crítica, bem-humorada e escrachada. Ri com vontade. Nada  - e ninguém - passa desapercebido. 

Mas é também, entre nós, a mais intensa. Cristina é pura emoção. Magoa-se com facilidade. E perdoa de coração aberto. Ri muito. E chora sentida. E doa-se. De corpo e alma. Não há o que não se peça que ela não faça. Não há o que a gente precise que ela não ajude. 

Nem sei dizer tudo o que ela já fez por mim. Corridas prematuras para a maternidade. Decorações de festas infantis. Aliás, maravilhosas! Porque a Cristina é muito talentosa e desenha e pinta muito bem! Ajudas de última hora de trabalhos escolares. Decorações de painéis. Enfeites natalino-judaicos. E a lista segue...

Cristina cuidou da nossa mãe depois que o nosso pai morreu com uma entrega sem medidas. Foi o apoio, o suporte, o anjo protetor. Nada faltava. Olhar atento às menores necessidades. Preocupação com os menores detalhes. Uma leoa. Sempre pronta para atacar, se necessário.



Foi professora de pré-escola toda a vida. E numa linguagem de igual pra igual, com o mesmo espírito confrontador que a define. "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás". 

E é essa ternura endurecida que a faz ser tão especial. Porque ela está sempre perto, sempre disponível. Sempre preocupada. Sempre envolvida. Sempre se interessa, sempre participa. Sempre quer que tudo dê certo. Sempre torce. Sempre vibra. E sofre junto quando algo dá errado. 

E é também por isso tudo que ela é a TINA, a tia querida, muito querida, querida MESMO, de TODOS os sobrinhos e sobrinhos-netos. Cada um dos 11 sobrinhos tem, certamente, histórias incríveis com ela! E também os 8 sobrinhos-netos, de quem ela ajuda a cuidar, assumindo, tantas vezes, de forma generosa e amorosa, o papel de avó. 

Ela hoje mora no Rio. Sua casa é de todos. Portas abertas. Chaves entregues. Pra quem quiser. E tem um cachorro alucinado, Tyrion, um yorkshire que preenche a casa e o coração. Os nossos também.

E hoje, no dia em que ela completa 65 anos, queria dizer que é um enorme privilégio ser sua irmã. Não é fácil ser sua irmã. Mas é bom demais!

Feliz 65! Feliz muitos mais! 






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