terça-feira, 22 de agosto de 2017

Maú. Porque a primeira amiga a gente nunca esquece.



Maú é Maria Lúcia. Mas Maria Lúcia, pra mim,  é uma estranha. Ela sempre foi e sempre será Maú.

Não sei ao certo quando nos conhecemos. Acho que desde sempre, pois não tenho qualquer memória da infância em que ela já não estivesse presente. Éramos muito pequenas. Muito pequenas mesmo! Eu morava em Belo Horizonte e os nossos pais trabalhavam juntos. Dr. Armando. Uma figura bonachona, careca, e com um dos sorrisos mais límpidos de que tenho memória. Dr.Armando, muitas vezes, nos buscava na escola. Estudávamos no pré escolar Izabela Hendrix, pertinho do Palácio Tiradentes. Não houve um único dia em que ele nos buscasse que não perguntasse quantas palmeiras imperiais havia na linda alameda! E contávamos, uma a uma, e, claro, nunca era o mesmo número! Essas palmeiras, por isso, têm um enorme significado pra mim! São as mais belas palmeiras do mundo!

Morávamos no bairro da Serra. Nós, na Rua Ramalhete, imortalizada na canção do Tavito. Eles, na Rua dos Dominicanos, numa casa bem em frente ao Convento. Naquela época, a Rua dos Dominicanos era a última rua do bairro. Havia apenas uma rua entre a nossa e a deles, e íamos de uma a outra ladeando o córrego que passava por ali. Não sei quantas infinitas vezes fizemos esse trajeto.

Éramos cinco filhos na minha casa e também eram cinco filhos na casa da Maú. Ela, como eu, era a quarta. A irmã mais velha da Maú tinha o mesmo nome da mãe: Luiza. Luiza Maria.Luiza Maria tem o melhor gosto pra nomes! Sua filha se chama Marina e um dos seus filhos se chama Daniel! Bom gosto não se discute!!!!  O irmão mais velho, Armando José, comia  batata frita e tomate todos os dias no almoço. A gente morria de vontade, mas o prato dele era separado, só pra ele. Ninguém ousava tocar. O apelido dele era Pajé. Qualquer referência não terá sido mera coincidência. O outro irmão, José Marcos, conhecido como Bila, era o melhor amigo do meu irmão. Aprontaram muito nas esquinas da Serra! Depois da Maú, vinha a Maria Cristina, Tininha, que, por ser tão próxima em idade, também tornou-se muito minha amiga.

D.Luiza, a mãe da Maú, era uma senhora muito religiosa e nossas bonecas foram as mais puras do bairro! Perdi a conta de todos os batizados que fizemos para as nossas bonecas na casa da Maú, todas devidamente validadas pelo coroinha que fazia o favor de comparecer. Depois da cerimônia, sempre tinha uma festa com bolos e doces. Batizados e aniversários! Nossas bonecas foram muito celebradas! E quantas doces lembranças tenho desses dias...

Eu e Maú aprendemos a ler na mesma sala, já no Instituto de Educação. D. Elisa era a nossa professora e minha mãe, que fazia a lotação das crianças do bairro na nossa Kombi, também dava carona pra D. Elisa. Aprendemos a ler numa cartilha experimental dos Três Porquinhos. "Era uma vez, era uma vez, três porquinhos. Palhaço, Palito e Pedrito". Tínhamos uma amiga, Maria Elisa, de voz esganiçada e que beliscava quando contrariada. Aqueles beliscões fininhos, da ponta dos dedos, e que doíam mais do que tudo! Um dia, Maria Elisa foi brincar  com a gente lá em casa. Não me lembro o que aconteceu, mas ela, chateada, saiu correndo de volta pra sua casa sozinha. Era no mesmo bairro, mas era longe e éramos muito pequenas. Minha mãe ficou desesperada e, quando chegamos lá, ela já estava em casa. Um susto!

Fizemos Primeira Comunhão juntas, com 7 anos,  no Convento dos Dominicanos. A nossa professora de Catecismo era D. Eva, filha do Sr. Fuchs, que morava na esquina da Maú. Todo mundo achava que o Sr. Fuchs era louco e a gente morria de medo dele! Mas a gente provocava! E quando ele saia gritando, corríamos com o coração na boca!

Quando voltamos a morar no Rio, Maú sempre vinha passar as férias na minha casa! Íamos à praia, ao cinema, brincávamos carnaval. Algumas vezes, os pais dela alugavam casa de veraneio no Espírito Santo e eu, então, ia com eles. Mas não havia possibilidade de férias sem estarmos juntas!

Uma vez fomos para Iriri. Uma das melhores férias da minha adolescência! Iriri era uma praia minúscula, linda, gostosa. As ruas eram de terra, a rua beira mar tinha um barzinho e uma sorveteria. E um monte de jovens! Naquele verão, a moda era fazer o soutien dos biquinis amarrados de lenços. Fizemos uma coleção e trocávamos entre nós!Ficamos MEGA bronzeadas! Até a Tininha, que era mais branca do que a mais branca das criaturas! Conhecemos uma turma de rapazes de Volta Redonda. Aquelas paqueras típicas de férias. Íamos à praia, e, à noite, pro barzinho. E ai era aquela pegação! Uma dessas noites, enquanto eu e a Tininha estávamos "atracadas" com os nossos paqueras, D. Luiza passou pela rua beira mar pra tomar um sorvete depois do jantar. Claro que nos viu. Não falou nada. Mas a gente sabia que ia sobrar! Careta como ela era, não ia nos deixar incólumes. Voltamos pra casa quietinhas, com ares de santa, e fomos dormir. D. Luiza estava sentada na cozinha escrevendo numa folha.  No da seguinte, quando acordamos prontas para ir à praia, ela nos chamou na cozinha e leu o serão. LEU. Sim. LEU! Segundo ela, passou a noite escrevendo para não se alterar. Se desse a bronca no ímpeto, poderia esquecer  alguma coisa. Então escreveu a bronca e leu pausadamente, a voz inalterada. E tivemos que redobrar o cuidado depois disso! Dessas  férias em Iriri, além da bronca da D. Luiza, uma outra memória inesquecível: a voz da Maú! Um desses meninos de Volta Redonda deu a melhor definição da voz dela: voz de menopausa. Até hoje não sei o que seria a voz de menopausa, mas, seja o que for, a descrição pareceu perfeita! A Maú tinha mesmo voz de menopausa! Se a conhecessem, saberiam exatamente o que é!

Maú casou, em fui madrinha. Eu casei, ela foi madrinha. Maú teve Isadora e Laura. Eu tive Daniel e Marina.

Meu pai virou estrela, ela estava comigo. Dr. Armando virou estrela, eu estava com ela. Só não conseguimos estar juntas quando D. Luiza virou estrela.

Maú engatou rodinhas no pé depois do casamento. O marido dela, Pits, jornalista e fotógrafo, é uma das pessoas mais incríveis que existe! E o avesso do ideal da D. Luiza! Descolado, cabeludo, quase um hippie! Arrastou a Maú pra Bolivia logo depois do casamento e passaram uma boa temporada lá. Moraram em São Paulo por um tempo. Eu almoçava na casa dela todas as quartas-feiras e ela me ensinou a fazer casacos de matelassê. Ela fazia muito bem!! Depois foram pra Brasilia. Depois Nova York. Depois Barcelona. Depois Belize. E eu ia atrás! Só não conheci Belize e me arrependo até hoje de não ter ido!

Agora estão de volta a Brasilia. Isadora ficou em Nova York, mãe de 3 crianças lindas!! Laurinha está na Alemanha. E o mundo,espalhado, fica pequeno. Ou grande pra acolher tantas distâncias e tanto amor.

Hoje a minha amiga está completando 60 anos!!! E está comemorando em grande estilo com o Pits, as filhas e os netos!

E penso nela com o amor da amizade mais longa e especial da minha vida! E com o agradecimento por ela jamais ter deixado de estar presente! Ela é melhor nisso do que eu. Muito melhor! Ela liga sempre, ela lembra do aniversário de todo mundo, ela liga pra minha mãe no aniversário e no dia das mães. Atenta, leal, incansável!

O que eu desejo pra ela não cabe aqui. Porque a nossa história não cabe aqui. Porque são tantas e tantas as memórias compartilhadas... Porque é tão grande a torcida! Porque é tanto e tanto e tanto!

Maú, minha amiga querida! Que a nova década te seja ainda mais generosa e leve!

E que a gente ainda comemore juntas décadas sem fim! Ela, a sempre Maú! A única que consegue perpetuar a Licinha que ainda existe em mim!






4 comentários:

  1. Fiquei muito emocionada com este texto.... que coisa mais linda!!! Beijos!

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  2. Fatima Beirão de Oliveira25 de agosto de 2017 às 19:34

    Lindo, Maria Alice. Que amizade bonita!!!! Lembro-me dela, irmã do Bila

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    1. Isso, Fatima! A irmã do Bila!!! Amizade linda mesmo... A Serra produziu lindas histórias!!Bjs

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