domingo, 28 de maio de 2017

Bambolê.



Ela adorava prender pensamentos! Mas não qualquer pensamento. Gostava mesmo dos pensamentos com cheiro de jasmim e gosto de pirulito. Desses que colorem cinzas e têm som de violino. Pensamentos suaves como seda. Ou cetim. Não sabia ao certo,  porque, na verdade, nunca tinha tocado um ou outro, mas sabia que eram macios. Tinha lido numa revista. Quando tinha a sorte de ter um pensamento assim, imediatamente prendia-o num bambolê imaginário! E não deixava mais o danado escapar! O pensamento até tentava, mas o bambolê girava, girava... E o pensamento ficava lá, rodopiando dentro do aro. Algumas vezes, quanto mais forte o rodopio, mais o aro se enfeitava! E logo se cobria de laços, fitas e flores. E o pensamento junto, rodando igual até não se ver mais  o que era pensado. Quando ela sentia que o pensamento não conseguia mais fugir, arriscava movimentos mais audaciosos. E então o girava pelas pernas, pelos braços, e deixava o bambolê subir e descer livremente. O pensamento, então, soltava-se em círculos múltiplos que a levavam onde ela jamais pensou ir! E ela ia. Agarrada ao bambolê e entregue à sua imaginação. Aos poucos, o rodopio perdia a sua força. E ia parando, parando, parando. Até o bambolê cair no chão e o pensamento percebendo-se livre, fugir para pensar em outras bandas!

(Publicado no grupo Minicontos no dia 28/05/2017. PALAVRA-CHAVE: BAMBOLÊ)

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