sábado, 12 de dezembro de 2015

Madrinha.





Uma porta entreaberta e meus olhos curiosas de menina. Do outro lado, sofás com encosto azul - verdadeiros tronos de reis e rainhas -  e o toque exótico do biombo chinês tornaram-se o cenário preferido dos mistérios e fantasias que embalaram a minha imaginação infantil. Posso ainda sentir a emoção quando o acesso àquela sala me era permitido. Ar solene e  o quase prender a respiração por receio de tocar qualquer um daqueles preciosos objetos. Essas são as primeiras lembranças -  e tão queridas - da minha infância.

Não sei precisar em que momento a escolhi para minha madrinha de crisma. Nem sei se sabia ao certo o que significava ser madrinha de crisma. Mas soava como algo importante. E era, dentro da minha ingenuidade de criança, a maior honraria que podia lhe oferecer e garantir o papel de destaque que ela teria por toda a minha vida.

Dela ganhei a minha primeira Barbie. Com ela aprendi a dança descompromissada, apenas pelo prazer de dançar. Dela ouvi as história mais engraçadas de uma vida que parecia ter sido tirada de um livro. Não podia ser vida real. E tantas outras lembranças... Os jogos de buraco aos sábados à noite. A casa sempre cheia de filhos e amigos e amigos dos amigos e quem mais aparecesse. Férias memoráveis. As tardes e tardes jogando Yam. Os livros que ela devorava sobre belas histórias de amor em lugares longínquos. E tantas outras lembranças...

Das suas qualidades, escolho guardar como exemplo o sorriso sempre estampado no rosto. Mesmo porque, segundo ela, não conseguia mesmo chorar porque tinha o canal lacrimal entupido. A elegância e a graciosidade para superar as adversidades  que não foram poucas! A generosidade para acolher muitos. Sempre acolher muitos. O coração infinito. Uma verdadeira dama.

E se fadas são mesmo madrinhas ou madrinhas são mesmo fadas, não importa. A minha madrinha sempre foi fada. E como tal, num passe de mágica, abriu a porta da sala proibida. E inundou um chão de estrelas para chegar ao céu e sempre brilhar!

4 comentários:

  1. Adoro você escrevendo sobre os seus amores. De todos os tipos! Parece que a conheci - muito de nome - assim, quase uma vizinha. Sou leitora e fã!

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  2. E eu adoro que vc seja leitora e fã!!!!!!! Muitas dessas histórias e dessas pessoas vc acompanhou!!!! Bjs

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  3. Lindo e comovente texto, Alice! As fadas são madrinhas e as madrinhas. na maioria das vezes são fadas!

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