domingo, 6 de março de 2016

Triffids.

"So we must think of the task ahead as ours alone. We believe now that we can see our way, but there is still a lot of work and research to be done before the day when we, or our children, or their children, will cross the narrow straits on a great crusade to drive the triffids back and back with ceaseless destruction until we have wiped out the last one of them from the face of the land that they have usurped."

(The Day of the Triffids - John Wyndham)






The Day of the Triffids foi o primeiro livro pra valer que li em inglês. Eu tinha 17 anos e ele fazia parte da lista de leituras obrigatórias para  a obtenção do Certificado Cambridge pela Cultura Inglesa. Escrito em 1951 pelo inglês John Wyndham, é considerado uma das ficções científicas - gênero que nem gosto - mais potentes da literatura mundial. E certamente serviu de  inspiração para o posterior Ensaio sobre a Cegueira do mestre português Jose Saramago.

O enredo pós apocalítico descreve um mundo depois de uma chuva de meteoros. Sem explicação, a população perde a visão, com exceção de alguns poucos que, por sobrevivência, agrupam-se enquanto decidem e ensaiam novas formas de convivência social. Ao mesmo tempo, triffids, plantas carnívoras de alto poder destrutivo e  cultivadas em caráter experimental, começam uma verdadeira invasão.  Com capacidade de locomoção e  comunicação, além de veneno mortal,  as plantas avançam e  promovem o verdadeiro colapso da  humanidade. Os grupos que ainda detêm a visão,  diante dessas condições tão adversas,  precisam resolver seus conflitos e discórdias sobre poder e sobre  caminhos a seguir que re-estabeleçam alguma ordem social.

Não pensava nesse livro há décadas! Mas nesses últimos dias, com a sucessão dos eventos políticos que nos envergonham e recuam nossa recuperação moral, econômica e social, triffids voltaram a me assombrar.

Independente de sermos pró ou anti o atual governo, acredito haver unanimidade quanto ao nosso colapso como pais. Desvios astronômicos alimentam o insaciável monstro da corrupção. Retração econômica de quase 4%, com prognósticos ainda piores para 2016. Inflação e desemprego condenam qualquer avanço social supostamente conquistado na década passada. Governo sem credibilidade e sem governabilidade. Oposição meramente retórica, sem  consistência e sem  projetos  alternativos.  Lideranças políticas  - todas - comprometidas no lamaçal dos escândalos que parecem não ter fim. Órbitas de poder reveladas em  diversos setores de produção e serviços.

Nossos triffids envenenam e condenam nossa economia, nossa política, nossa educação, nossa saúde pública, nossa segurança, nossa cidadania. Multiplicam-se letais, provocando ódios e inviabilizando entendimentos que apontem saídas. Evoluem em rapidez reconstrutiva impressionante e em complexidades alarmantes. Estamos acuados. Paralisados. Ameaçados.

Estamos divididos em nossas cegueiras. Um lado, vitimado, agarra-se a um herói decadente para denunciar golpes imaginados contra a ideologia perdida. O outro lado, contrário às práticas que nos mergulham cada vez mais no caos, sabe claramente o que rechaça, mas sem convicção para as as alternativas possíveis.

Os modelos conhecidos não resolverão a nossa crise. A desconstrução é tamanha que não há mais correspondência possível. Os discursos de palanque do ex-presidente Lula  e do seu partido são ultrapassados e patéticos. Já não ecoam nem podem ser validados diante do novo quadro.  Os discursos vazios da  oposição também nada acrescentam. Apontar os culpados é chover no molhado. E não resolvem a gravidade da nossa condição.

Voltar aos trilhos exigirá mais do que isso. Exigirá assumirmos nossas cegueiras coletivas e aprendermos a enxergar no escuro. Significará movimentos de aproximação muito mais do que de distanciamento. Envolverá assumir que o purismo absoluto de ideologias não é possível - pelo menos neste momento -  dentro da nossa imoral configuração política. Para garantir a democracia, há que ceder. Há que engolir. Há que reconhecer. Há que humildemente, abdicar. Há que, solidariamente, doar. Há que, estrategicamente, recuar. Há que, diplomaticamente, negociar.

O Brasil mudou  Está mudando. No que tem de pior e no que tem de melhor. Expurgar o pior é a nossa única opção. Acolher o melhor, nossa salvação.

Abaixo os triffids! E todo o rastro de destruição que carregam com eles!







Nenhum comentário:

Postar um comentário