terça-feira, 8 de março de 2016

Quando o X é toda a questão.


Venho de um núcleo essencialmente feminino. Com mãe e três irmãs, feminês era a língua falada na minha casa. E foi entre vestidos, bonecas, trabalhos manuais, tpms, amigas e namorados - sempre multiplicados - que aprendi a magia do mundo cor de rosa.

Pois o mundo cor de rosa é mágico! E muito ruidoso! Mulheres são empáticas. Intensas. Atentas. Solidárias. Generosas. Protetoras. Acolhedoras. Cuidadoras. Contraditórias. Ambíguas. Inclusivas. Flexíveis. Múltiplas. Adaptáveis. No emaranhado de tantos pensamentos simultâneos, acham a ponta da linha. E tecem. No turbilhão de emoções conflitantes, acham o porto seguro. São o porto seguro. Fazem-se porto seguro.

Não há mundo possível sem a segurança de um porto. Ou, pelo menos, não há o meu mundo possível sem a segurança dos meus portos: minha mãe, minhas irmãs e minha filha. Que me ensinam todos os X das questões.







Minha mãe nos ensinou a feminilidade na sua forma mais cristalina. Ensinou a vaidade. Não a vaidade vã, mas a vaidade de viver mulher por inteiro. De ser sem deixar de ser. Mas ser, sobretudo, sendo. Na elegância. Na delicadeza. Na determinação. No orgulho. Na entrega. Na generosidade. Na discrição. Na preservação familiar. Na unidade. Na atenção aos detalhes. No bom gosto. Na valorização do lar. Na organização. Na disciplina. No ambiente acolhedor e festivo. No cultivo das amizades. Minha casa reunia, recebia, estava sempre cheia. Dia e noite. E tantas madrugadas de jogos e risadas! E, ao mesmo tempo, até surpreendentemente moderna pela sua própria formação e convicção, ensinou a independência. A auto-suficiência. A priorização dos estudos. A apreciação pela leitura. O incentivo à realização profissional. A prática de esportes. Mas, acima de tudo, ensinou  a crença no amor.  O exemplo de relacionamento a dois. E a três, quatro, cinco e quantos mais! E, claro, a devoção a Santo Antônio!

Com minhas irmãs, aprendi/aprendo a riqueza plural de um vínculo incomparável! E só quem tem uma irmã entende isso. O amor entre irmãs não é incondicional, nem por escolha e nem por afinidades. É um amor imposto que precisa aprender a se amar. É um amor buscado lá no íntimo, mesmo quando as divergências desafiam a harmonia. Pois estranhamente, justamente nas divergências é que o vínculo entre irmãs se fortalece. Reconhecemos nas irmãs a nossa própria identidade. Tendo o mesmo código genético e emocional, partem exatamente de onde partimos, viveram a mesma história e sofreram a mesmas influências na formação. Num certo sentido, olhar nossas irmãs é ver quem somos e quem poderíamos ter sido. Pois reconhecemos nas suas características físicas e emocionais  elementos que também são nossos. Ou, não sendo, poderiam ser. E assim, nessa comparação fragmentada, assumimos nossa identidade independente, mas sempre com aqueles "espelhos ocultos" como sustentação. Nesse sentido, minhas irmãs têm sido espelhos múltiplos em sustentação inabalável! Cada uma me traz fragmentos caleidoscópicos que me refletem como imagens variadas de nossas combinações.






E minha filha. Minha Marina. Tão bela! Tão amorosa e sensível! Inteligente, responsável, dedicada e tão capaz! Centrada e determinada. Preocupada. Observadora. Justa. Focada. E tão companheira! Colore os meus dias - todos os dias - só por existir! E me obriga a olhar além, muito além. E me lembra quem fui e como cheguei até aqui. E me ensina tudo o que vale a pena. Só o que vale a pena. E provoca novos sonhos. Por mim e por ela. E só confirma o poder  de transformação e encantamento do universo feminino! E renova a esperança de um mundo mais gentil e mais gracioso.

E assim, com um pouco de cada uma dessas grandes mulheres, me faço, orgulhosa, a mulher que sou hoje. E com ainda mais das minhas sobrinhas, sobrinhas-netas, primas, tias e amigas. E celebro todas - cada uma - no nosso dia! E celebro todos os X das nossas questões. Afinal, só nós, mulheres, guardamos em nós o maior deles: o segredo da vida!

2 comentários:

  1. Bravo,Maria Alice! txto lindo ... mas ,,ao falar sobre as irmãs ," ...nessa comparação frafmentada, assumimos nossa identidade.." vc me impressionou / emocionou mais ainda! Bjs

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    1. Que bom que você gostou, Catia!!!! Sobre irmãs... Você conhece as minhas... E não é verdade? Bjs

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