Olhou para o céu, curvou os ombros e caminhou em passadas solenes de volta à casa. A velha cadeira já balançava à sua espera na pequena varanda. Recostou-se, fechou os olhos e atentou para a revoada de pássaros à procura de abrigo. Esperou mais um pouco e respirou fundo a brisa já umedecida. Contou precisamente até dez e a chuva caiu forte. A cadeira continuou balançando no ritmo familiar e compassado. Tamborilou os dedos, esperando, pacientemente, a chuva ceder. Abriu os olhos quando não se ouvia mais do que pingos formando pequenos círculos que se abriam na terra molhada. Olhou outra vez para o céu e sorriu. Pequenos raios de sol tentavam romper a cortina cinza e macia das nuvens. E, pelas frestas conquistadas, refletiam nas poças, cintilando cada gota. Levantou-se, então e abriu cuidadosamente a caixa prateada ao seu lado. Imediatamente, borboletas de todas as cores tomaram os ares e as flores! Abriu a caixa dourada guardada embaixo da cadeira e tirou de dentro dela um pequeno pote. Poliu-o até reluzir como ouro. Desceu os degraus da varanda e caminhou até a pequena fonte que conduzia ao jardim. Girou a manivela cinco vezes. Um clarão acendeu no mundo, curvou-se num arco perfeito e coloriu-se em sete cores! Depositou, então, solenemente, o pequeno pote no pé do arco. Um tesouro indecifrável e de sonhos infinitos! Para quem acreditasse na mágica do arco-íris.
(Publicado no grupo Minicontos em 07.02.2016. Palavra tema: CHUVA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário