O Instituto Tomie Ohtake em São Paulo nem bem abriu suas portas para a exposição "Frida Kahlo - conexões entre mulheres surrealistas no México" e as filas já anunciam presença recorde.
Não é pra menos. Frida Kahlo é unanimidade e fascina pela singularidade de sua obra ao converter, em arte e pela arte, o privado em público. Seus famosos autorretratos estampam a sua biografia tão conturbada pelas dores físicas e emocionais, traições e a angústia da maternidade não realizada sem qualquer pudor ou filtro. E em alternações camaleônicas realmente surpreendentes!
Autorretrato com macacos (Frida Kahlo) |
As vinte telas de sua autoria e algumas peças do seu vestuário já justificariam as horas de espera. Mas transformar esse pequeno grande acervo em linha condutora para dar voz a outras 15 mulheres é iluminar mais histórias obscuradas pela História - inclusive a da arte - predominantemente masculina.
O universo feminino é complexo, denso, múltiplo e extremamente acolhedor, empático e solidário. As 15 mulheres que acompanham Frida Kahlo - mexicanas por sangue ou por escolha - traduzem esses universos plurais e complementares com cores e formas intensas, impactantes e intrigantes!
O surrealismo, desafiando os limites da realidade física e racional e abraçando o inconsciente e o mundo onírico, não poderia encontrar melhor inspiração e identidade do que na poesia e magia das civilizações pré-colombianas. Espiritualidade, primitivismo e natureza em sintonia e harmonia.
Roulette (Remedios Varo) |
Frida Kahlo foi a condutora e inspiradora para esse talentosíssimo grupo de mulheres e abriu espaço para uma produção artística de potência absurda! A curadora Teresa Arcq foi feliz na opção temática para expor os trabalhos. Os diálogos, assim, são melhor percebidos e semelhanças e diferenças mais acentuadas. A escolha permite também organizar temas recorrentes da natureza feminina: maternidade, sexualidade fantasia, religiosidade, vaidade, relacionamento, natureza e auto imagem. Um passeio pela turbulência afetiva do mundo cor de rosa.
A Noiva que se Espanta ao Ver a Vida Aberta (Frida Kahlo) |
Os autorretratos são impressionantes! Dissecam a alma de cada uma daquelas mulheres com seus olhares para dentro e que afloram dores e alegrias profundas. Sem poupar tinta. Sem vaidade vã ou auto piedade. E, ainda assim, permitindo ousar-se como mitos, divindades e personagens fantasiosas.
Autorretrato (María Izquierdo) |
Não conhecia nenhuma daquelas artistas e fiquei particularmente tocada por María Izquierdo (México), Remedios Vara (Espanha) e Alice Rahon (França). Quanta beleza!
Balada por Frida Kahlo (Alice Rahon) |
Aos poucos, as mulheres ocupam o seu espaço negado e as suas histórias corrigem desfoques e preenchem as lacunas que as vozes e olhares limitados do universo masculino não alcançam .Novas vozes e novos olhares que lapidam humanidades entranhadas com muita força e sensibilidade.
Deve ter sido espetacular. O trinômio Frida, cores e sofrimento sempre alimentaram meu imaginário. Como um ser como ela poderia existir? E amar? Homens e mulheres, sem pudores ou preconceitos numa época pouco afeita a despudores públicos. O sofrimento atroz deve ser uma espécie de carta de alforria pensava eu. Para a vida e para a arte.E na hora de sua morte escreveu: " "Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar - Frida", Teria se matado
ResponderExcluirTambém sempre pensei isso: como deve ter sido viver tão fora do padrão - em todos os sentidos? Como será a angústia de tanta inadequação? De onde vem a força que converte tudo isso em arte com tal potência? Junte-se isso a 15 outras mulheres e você pode imaginar o que é essa exposição. Não perca quando for pro Rio em 2016!
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