sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Bendito é o fruto entre as mulheres.



Minha mãe sempre quis filhos. Homens, bem dito! Por ela, seríamos todos meninos!   Foi punida com 4 mulheres! Mas... Em reconhecimento à sua devoção a Santo Antônio,  foi presenteada com o tão desejado varão! E depois do susto da primeira filha, lá veio ele  para já resolver o assunto! Na sequência,  mais três meninas.

José Alberto. José em homenagem ao meu avô materno e Alberto em homenagem ao meu avô paterno. Mas é conhecido mesmo como Zeca.

Foi um menino loirinho e , como a minha mãe mantinha o corte reco, as orelhas sobressaiam. Mesmo!






Quando moramos em Belo Horizonte, ele estudou  no Colégio Militar. E todo 7 de setembro assistíamos à parada obrigatória na Avenida Afonso Pena. Parada é como se chamava desfile em mineirês. Quando ele passava, a gente gritava: Zeca!!! Zeca!!!! Torcida organizada!

Ainda em Belo Horizonte, se reunia com os amigos na rua. Em uma das casas na rua de cima (ou do lado, não me lembro mais), tinha um senhor a quem eles deram o apelido de Zé Galinha. O cara passava de carro e eles gritavam "Zé Galinha! Roda dura!". Um dia, quando ele chegou em casa, o tal senhor estava lá conversando com os meus pais. Meu irmão cumprimentou-o pelo nome e o sr respondeu: "Mas não é assim que você me chama!"Em resumo, Zé Galinha foi de casa em casa fazer queixa dos meninos!! hahaha Zé Galinha foi grande personagem da nossa infância!

Meu irmão é "levemente" neurótico com segurança. Sempre foi. Quando os meus pais saiam, ele, como homem, tinha a missão de nos proteger. Ele pegava um facão na cozinha e, ao menor ruido... Sério! Ele sempre estava pronto para esfaquear qualquer intruso! 

Quando voltamos para o Rio, ele  foi pro Colégio São Vicente de Paula, que, na época, era apenas de meninos. Um ou dos anos depois virou misto. Nessa época, TODO mundo achava que ele era a  cara do Ronnie Von. Sério! Pior que parecia mesmo! Pronto! Pra minha mãe, já era motivo mais do que justificado para se embevecer ainda mais!

Engenheiro Químico formado pela UFRJ. Sempre foi bom aluno. E a ele coube a missão quase impossível de ajudar as suas irmãs menos favorecidas pela genética da matemática. Somos traumatizadas.  Principalmente eu e a Cristina! O que para ele era óbvio, pra nós, era grego. E ele tinha ZERO paciência e ZERO didática. Quando meus pais falavam "Vá estudar com o seu irmão", a guilhotina parecia um sonho inalcançável...

Nossas amigas o achavam O MÁXIMO! E ele era mesmo! Bonito, atlético. Jogava vôlei  nas areias do Leme. E bem! Vascaíno, coitado. E engraçado. Muito engraçado! Mas o engraçado sutil, ácido. E tinha muitas expressões próprias: tripa, entubar uma brachola, pixote, e os versos primorosos "meu filho, meu tesouro... Não escaves nessa encosta... Em vez de encontrares ouro... Encontrarás o homem bosta!"

Não gostava de festas e nem de carnaval.A gente adorava!E ele nos levava e buscava. Temos um carnaval inesquecível em Rio das Ostras! Alugamos uma casa lá uma vez e fomos ao baile de carnaval no único clube da cidade. Não sei por que cargas d´água ele resolveu nos acompanhar. Eram dois salões separados por algumas colunas. ACREDITEM! Ele passou a noite encostado numa dessas colunas. LENDO UM LIVRO!!! Ao som ensurdecedor de marchinhas de carnaval! De vez em quando dava uma geral, nos achava e voltava pra coluna e pro livro. Sério! 

Quando ele começou a namorar a Kyria, me levava algumas vezes à casa dela. Eles se davam discos de presente quando completavam mesário de namoro. Peguei dois deles: Without you (Nilsson) com a dedicatória "I just can't live without you" e Everything I own (Bread) com a dedicatória "you". Com a mãe da Kyria aprendi a falar bem-vindo em grego (algo parecido com calostos) e a comer kurabie, um biscoito dos deuses coberto de açucar!

Fui madrinha do  casamento. Foi uma cerimônia ecumênica linda ( a Kyria era ortodoxa), cheia das tradições gregas. A parte católica foi celebrada por um dos  colegas do Zeca do São Vicente. 

Quando a Adriana, sua filha mais velha nasceu, a neurose se acentuou. Ele sumiu com todos os objetos cortantes, tudo que era levemente pontiagudo era um perigo eminente e não confiava em ninguém. Eu estava mal acostumada com a Beth, que nos deixava sair com as meninas pra cima e pra baixo desde bebês. Um dia, quis levar a Adriana sozinha ao teatrinho. Ela era bem pequena. Eles moravam na Rua Toneleros e o teatro era na Siqueira Campos. Pensam que fui sozinha??? Claro que não!!! OBVIO que ele foi junto! Uma outra vez, a Kyria ia viajar com a Adriana. Não me lembro pra onde. Mas lembro que ele ensaiou no meio da sala a Kyria subir e descer com a menina no colo do avião. Mesmo! Com o Alexandre e com a Stéphanie foi um pouco, um pouquinho melhor, mas ainda assim... Até hoje ele é preocupado. Fica horrorizado porque eu deixo a porta da minha casa aberta, treina todo o percurso quando a minha mãe sai para passear, é atento aos mínimos detalhes. No grupo de Whatsapp entre os irmãos, os assuntos desdobram-se em perguntas minuciosas que contemplam todas as possibilidades e até mesmo as imposibilidades! 

Ele morou em Salvador por muitos anos e em Houston por alguns anos. Fui algumas vezes a Salvador e sempre nos divertíamos muito! Fui a Houston uma vez com a Marina e temos ótimas lembranças do nosso breakfast com hash brown e o famoso jantar no Papasito's!

Meu irmão hoje mora em Mogi das Cruzes. Adriana também mora lá com o marido e seus dois filhos: Guilherme e Jessica. Alexandre mora em São Francisco e tem um filhinho: Daniel. Stéphanie estuda Direito em Belo Horizonte. E, como se não bastasse, ainda tem o Syd, o cachorro estressado companheiro de caminhadas.





Não deve ter sido fácil crescer no meio de tantas mulheres. Aliás, deve ter sido muito difícil. Mas ele se saiu bem. Muito bem! Relacionamentos entre irmãos é uma coisa esquisita. São laços fortes entre personalidades tão diferentes! E que convivem por obrigação mais do que por opção. E aprendem essa convivência nem sempre fluida pelo amor que não se explica! Mas que facilita, abre os caminhos, encontra o seu espaço.  

Cada uma de nós, irmãs, terá memórias distintas com o Zeca. As minhas são muitas. E todas muito especiais. Ele me ensinou a gostar da Petula Clark, por exemplo. E me ajudou vezes sem conta! E me faz rir com  o deboche que desconhece limites! 

Mas dois momentos são únicos. E os guardo com o maior carinho e muita emoção. O primeiro é a série de cartas que trocamos enquanto eu estava no intercâmbio nos EUA. Eu tinha 16 anos. Reproduzo abaixo alguns trechos dessas cartas.







O segundo, e o mais especial de todos, foi no dia do meu casamento. Meu pai já tinha virado estrela e ele entrou comigo. Fomos quase mudos de casa até a igreja. Ele tinha cortado o dedo não sei com o que e tentava estancar o sangue. Ali, na porta da igreja, me deu o braço e caminhamos pela nave. Fomos devagar, ele me segurando forte e nos olhávamos de vez em quando. Choramos muito quando nos abraçamos. E acho que nunca agradeci tanto ter um irmão e ser ele o meu  irmão!



Hoje o meu irmão completa 65 anos! Custo a crer no tempo que passou... E sinceramente, m pergunto quando foi que ele ficou assim tãaaao mais velho do que eu!! Ainda é bonitão! Muito mais do que o Ronnie Von! Quem conheceu o meu pai acha que o Zeca está cada dia mais parecido com ele. Ainda é muito engraçado! Humor típico da família do meu pai! É super companheiro!E, acima de tudo,  tem a sorte de ter as melhores e mais belas  irmãs do mundo!!
















4 comentários:

  1. Alice, amo teus textos!! E como o Zaca deve estar feliz com este, todinho dele! Feliz aniversario, Zeca!

    ResponderExcluir
  2. Como sempre, essa efervescência que eu adoro ler! Se essa megasena de quarta - 44 milhões - for minha, temos a nossa revista! Beijos!

    ResponderExcluir