domingo, 17 de abril de 2016

Minha irmã mais velha.

Hoje minha irmã mais velha completa 65 anos!  Minha mãe queria que sua filha tivesse Maria no nome. Meu pai queria  nome de  rainha.  Ela, então,  nasceu Maria Elisabeth. Assim,  com s. Meu pai a chamava de Tequinho. Mas, para o resto do mundo, ela sempre foi Beth.

Quem tem uma irmã mais velha, entende bem as vantagens de  nascer depois dela! Ela é quem ensina os pais a serem pais. Concentra todas as expectativas.  Chama pra si as responsabilidades e os exemplos. E também as transgressões. Aprende desde muito cedo a ceder, a perder a prioridade. Cuida, protege. E abre os espaços e ameniza os conflitos. Sempre na linha de frente!Afina, tudo acontece primeiro com ela!

Mas  quem conhece a Beth sabe que ter  um irmã mais velha como a minha é muito além do listado acima!

Da  minha infância, tenho alguns flashes da minha irmã já adolescente:  dela me buscar algumas vezes na escola;  das toucas  no cabelo feitas com meias de seda; do vestido mais lindo de que tenho memórias: rosa de tecido brilhante e com botões de flores aplicadas;  da paixão pelo ator de Candelabro Italiano; das amigas enlouquecidas com o filme Help; das simpatias de namorados; do meu estranhamento a primeira vez que vi uma aluna dela chamando-a de "dona Elisabeth"; de um curso de culinária e do prato que ela fez: delícia americana; dos posters do Edu Lobo que, na parede do nosso quarto, acompanhavam os meus posters do Chico Buarque.

Eu tinha 14 anos quando ela se casou. Na sua casa tinha um minhocão amarelo-mostarda (acho!) que servia de sofá. E ela fez um lustre de copos descartáveis que eu achava lindo! Aliás, ela sempre teve talentos manuais. Fez cursos de pintura em tecido, pintura em porcelana, bordado e hoje produz quilts maravilhosos!

Minha primeira sobrinha nasceu em 74, minha primeira afilhada em 76 e meu primeiro sobrinho em 79. Acho que ela era meio louca, pois nos deixava sair com essas crianças pra cima e pra baixo sem restrições. Levávamos à praia, ao teatrinho, andávamos de ônibus... Depois que tive meus próprios filhos, passei a achar uma temeridade!

Ela foi avó cedo! Mateus tem 17 anos, Tiago 14, Lucas 9, Tales e Laura 5. Avózona! Dessas de livros. Das memórias.  Mas que faz as coisas despreocupadamente e precisa ser tutelada nas recomendações dos pais mais preocupados.

A Beth é uma figura! O que, no seu entendimento, é sinônimo de vanguardismo!  Vanguardismo legado ao meu filho Daniel, de quem , não por acaso, ela é madrinha! Lê muito e sabe um monte de coisas. De antropologia a astrologia. Tem uma serenidade que você duvida que seja possível! O mundo cai e ela está serena! E olhem que alguns mundos caíram ao redor. Essa serenidade, não gratuitamente, atrai as situações mais bizarras! Ela consegue reagir com naturalidade a toda e qualquer situação! A voz não se altera, o olhar é dento do olhar do outro e qualquer  absurdo soa lugar comum! Ela não precisa sair de casa para as coisas acontecerem. O mundo paralelo do surrealismo bate à sua porta ou no toque do telefone. Tudo chega nela! Às vezes, a imagino sentada numa banquinha dessas de praça "Me Conta Que Eu Te Escuto", e as pessoas sentam lá e contam as histórias mais improváveis!

Essa habilidade faz dela ouvinte preferida! Todos temos ímpetos de ligar pra ela quando alguma coisa acontece! E ela ouve atenta, generosa, tranquila. E sempre responde com ponderação e lógica. Tudo passa a fazer sentido. Tudo encontra seu lugar na lógica e no sentido. E nunca nos sentimos inadequados ou descolocados. Essa habilidade de acolhimento e empatia é rara! E tão especial!

Hoje, ao comemorar os seus 65 anos, desejo a ela toda a felicidade  possível do mundo!

E agradeço a  minha sorte em ser uma das irmãs mais novas da minha irmã mais velha!

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