segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Mãozinhas que falam.

Em 24 de abril de 2002, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) passou a ser oficialmente reconhecida como parte do grupo de línguas do Brasil. Esse reconhecimento trouxe também regulamentações que garantem a sua circulação em território nacional, além de determinar que os sistemas educacionais em todas as esferas (federal, estadual e municipal) a incluam como parte integrante dos Parâmetros Curriculares.

Desde então, a implantação de escolas bilíngues para surdos tem sido amplamente debatida. O bilinguismo - constituindo a língua de sinais como primeira língua e a língua portuguesa como segunda - consolida-se, mesmo que sem unanimidade entre os profissionais bilinguistas, como proposta educacional como maiores benefícios de capacitação acadêmica e também de inclusão social do deficiente auditivo na comunidade ouvinte.

A linguagem dos sinais permite que a criança surda acesso os conceitos de sua própria comunidade, elaborando os seus sentimentos e ideias de interação com o mundo. A língua portuguesa, por outro lado, fortalece as estruturas linguísticas, permitindo maior acesso à comunicação.

A proposta bilíngue sugere um novo olhar sobre a surdez, distante de sua visão meramente clínica e reabilitadora. Entender que a surdez compromete o desenvolvimento da linguagem verbal, mas não impede os desenvolvimento dos processos não verbais, possibilita o aprimoramento dos dois universos linguísticos. E integra o deficiente auditivo no mundo ouvinte, mantendo a sua auto-imagem positiva como surdo.

Após 14 anos, pouco avançamos. As dificuldades são inúmeras e não surpreendem. Obviamente, a falta de recursos e de suporte do poder público aparecem como principais dificultadores. Relatos de instituições comprometidas com o bilinguismo apontam despreparo na formação e capacitação e, em alguns casos, até mesmo a falta de compreensão dos profissionais envolvidos. Mais ainda, por falta de mediação competente, agravam-se os conflitos de funções e papéis entre professores, professores bilíngues, tradutores e instrutores, alunos surdos e ouvintes e até mesmo entre as próprias famílias - 90% ouvintes - que nem sempre dispõem do conhecimento e orientação necessários para promover o bilinguismo pleno no ambiente de casa.

Sob condições tão adversas, o avanço é abaixo do esperado ou desejado. E tem recuado sensivelmente nos últimos 5 anos.  Uma pena.

Que a nossa surdez  coletiva  passe a ouvir  efetivamente os que não ouvem e que a inclusão se consolide de forma rápida e plena. Raízes frutíferas do diferente que nunca deve ser excludente.



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