quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Alice que me dizendo há 2 anos!








Alice Que Me Disse nasceu em 13 de setembro de 2015. Era um projeto antigo, embora sem pressa,  só tornado possível, diante do meu total analfabetismo digital,   pela minha amiga Maysa Torres.  Dois anos e 150 textos publicados depois, manter o blog tem sido muito prazeroso. E fonte de  muitos aprendizados.

Aprendi, por exemplo, que blog é  propriedade egoísta e egocêntrica. O prazer de escrever e pelo que se escreve não é objeto do leitor, mas exclusivo de quem escreve. Aprendi também que não é fácil imprimir identidade  quando os interesses são muitos ou quando o objetivo é apenas expressar-se. Sem foco, sem tema, sem alvo. Aprendi que blog tem pouco alcance e pouca sintonia com a instantaneidade em que vivemos. Blog é lento, pausado. E aprendi, sobretudo, os monólogos que pautam a nossa comunicação atual.

Nesses dois anos, registrei algumas das profundas transformações políticas que atravessamos. Assisti a alguns filmes, shows e peças de teatro.  Acompanhei a Rio 2016. Filosofei em cima do nada. Ou de alguns tudos. Dividi lutos e alegrias. Compartilhei memórias. Corujei meus filhos. Homenageei família e amigos. Ensaiei minicontos. Sem qualquer pretensão literária, escrevi o que vinha de dentro, da emoção.

Penso nesses 2 anos como em 2 vidas. Tanto aconteceu, que parece outro mundo. Relações suspeitas, valores questionáveis. Difícil absorver, apreender, depurar, elaborar. Mais difícil ainda é reconhecer o quanto regredimos como pessoas, como humanidade. Tantas barbaridades, tantas desumanidades.

Hoje estamos divididos em multiplicações frenéticas. Inventamos inverdades, adaptamos fatos, julgamos sem perdão. Tornamo-nos especialistas absolutos sem qualquer respaldo teórico. Não permitimos discordâncias. Ressentimos dissonâncias. Rejeitamos confrontos. Polarizamos inconciliáveis. E embrutecemos, endurecemos. Atos de gentileza ou de elegância são fragilidades, não qualidades. Protegemo-nos no pseudo anonimato, crescemos na virtualidade. O coletivo engoliu a individualidade, a particularidade. Perdemos identidades para tornarmo-nos selfies. A palavra selfie esvaziou-se, tornou-se a negação de si mesma.

E é  justamente na palavra que o Alice Que Me Disse me mantém conectada, atenta, curiosa, esperançosa. Quanto menos dialogamos, mais a palavra ganha importância. Quanto mais monologamos, surdos e alheios, mais a palavra redime. Quanto mais nos angustiamos e desiludimos, mais a palavra salva. Não  há outro caminho que não seja pela palavra.

Mas não a palavra vã, deformada ou subtraída de seus significados e significantes. Resgatar a palavra na  sua essência mais primitiva e na sua natureza mais cristalina é o repouso para as nossas almas cansadas. A palavra é, na sua origem, pura poesia.  Há ato mais poético do que nomear coisas, pessoas, emoções? A palavra tudo pode, tudo permite, tudo desafia. A palavra cria, inventa, constrói, transforma e desafia. E depois faz todo o caminho inverso. Infinitas vezes.

E por que, então, perdemos o valor da palavra? Por que deixamo-la contaminar, desgastar, infectar, adoecer, sucumbir? Por que nos fechamos, surdos, cegos e mudos em grunhidos inaudíveis e insensíveis?  Em que momento a palavra  tornou-se  um fardo? Distanciou-se intangível e inacessível? Tornou-se literal? Descartável? Reciclável?

Sonho com a revolução incontrolável das palavras! A recuperação avassaladora da poesia que emocione, abrande, acalme. O levante incontido do que argumente, ouça, pondere, ecoe, engrandeça e transponha. Além, muito além. E mais além ainda. O além que tangencie o princípio. E que eles se confundam, até não sabermos mais qual é qual.

Nesses 2 anos do Alice Que Me Disse, celebro o poder absoluto, inquestionável e soberano da palavra. Celebro os diálogos. As composições improváveis. As metamorfoses linguísticas. O imponderável. As transgressões O mergulho alucinado  nos universos simbólicos. E, por fim, o descanso merecido em aliterações e assonâncias suaves e reparadoras.

E tenho dito!







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