domingo, 19 de junho de 2016

Chico Buarque e o cinema brasileiro.

"Uma tela enorme e vazia... Eu tive medo... Do que enxergaria ali mais tarde... Ou mais cedo..." (A Primeira Vez, Mamãe, Que Eu Fui Ao Cinema - José Miguel Wisnik)


O Dia do Cinema Brasileiro é comemorado em 19 de junho em homenagem ao dia em que  o ítalo-brasileiro Afonso Segreto registrou as primeiras imagens em movimento em solo nacional em 1898. Essas imagens capturaram a Baía de Guanabara  e foram feitas a bordo do navio Brésil.

19 de junho é também o dia  do nascimento de Chico Buarque, que hoje completa 72 anos.

Como melhor celebrar as duas datas senão contando a trajetória de Chico no cinema?

Chico tem participação expressiva no cenário cinematográfico  nacional e  talvez seja o artista originário do meio musical de maior presença "anônima"  na sétima arte.

Sua estréia foi em 1967 no filme Garota de Ipanema, escrito a oito mãos (Vinicius de Moraes, Glauber Rocha, Leon Hirzman e Eduardo Coutinho), no embalo da Bossa Nova e do Cinema Novo e onde ele interpretava um dos namorados mal sucedidos da bela. Seguiram-se Quando o Carnaval Chegar (Cacá Diegues - 1972), Vai Trabalhar Vagabundo II, como Julinho da Adelaide (Hugo Carvana - 1991), O Mandarim, como Noel Rosa (Julio Bressane - 1995), Ed Mort (Alain Fresnot- 1996) e Água e Sal, a polêmica co-produção luso-italiana de Teresa Villaverde (2001).

Chico também (co)assina o roteiro - além da produção musical - de marcos da cinematografia brasileira: Quando o Carnaval Chegar (Cacá Diegues - 1972), Os Saltimbancos Trapalhões (J.B.Tanko - 1981), Para Viver um Grande Amor (Miguel Faria Jr - 1983), Ópera do Malandro (Ruy Guerra - 1995), Estorvo (Ruy Guerra - 2000), Benjamin (Monique Gadnberg - 2003) e Budapeste (Walter Carvalho - 2009).

Documentários importantes também contam com a sua participação: O Povo Brasileiro (Isa Grinspum - 2000), Raízes do Brasil (Nelson Pereira dos Santos - 2004), Vinicius de Moraes (Miguel Faria Jr - 2005), Maria Bethania: Música e Perfume (Georges Gachot - 2005), O Sol: Caminhando contra o Vento (Tetê Moraes e Martha Alencar - 2006) e Fados, com o belíssimo Fado Tropical (Carlos Saura - 2007).

Mas a sua maior contribuição para o cinema nacional é, sem dúvida, a vasta lista de canções lindíssimas e inesquecíveis compostas especialmente para produções que nem sempre foram sucesso de público e críticas. Mas essas canções, mesmo que não imediatamente associadas aos filmes que as inspiraram, seguem imortalizadas no nosso acervo cultural coletivo.Entre tantas, cito Chorinho, Noite dos Mascarados, Joana Francesa, Vai Trabalhar Vagabundo, Flor da Idade, Quadrilha, O Que Será, Feijoada Completa, Não Sonho Mais, Sob Medida, Mil Perdões, A Ostra e o Vento, Forrobodó e, claro, Bye Bye Brasil.

Se tivesse que indicar o imperdível de Chico Buarque para os amantes do cinema, não poderiam ficar de fora:

1) Dona Flor e Seus Dois Maridos (Bruno Barreto - 1976), pelas três versões da música O Que Será. Continua sendo um dos filmes brasileiros de maior bilheteria de todos os tempos;

2) Bye Bye Brasil (Cacá Diegues - 1979), pela sua importância no momento histórico;

3) Eles Não Usam Black Tie (Leon Hirzman - 1981), pela trilha sonora memorável, além da dramaticidade das interpretações de Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri;

4) Os Saltimbancos Trapalhões (J.B. Tanko - 1981), pela trilha sonora absolutamente genial!  Meu Caro Barão é uma das músicas mais impressionantes já feitas!;

5) Estorvo (Ruy Guerra - 2000),  Benjamin (Monique Gardenberg - 2003) e Budapeste (Walter Carvalho - 2009), pelas adaptações de suas obras  literárias para a linguagem cinematográfica;

6) Certas Palavras (Mauricio Berú - 1980), longa documental que intercala canções e depoimentos, confundindo a sua obra e a sua vida;

7) Chico ou  O País da Delicadeza Perdida (Walter Salles e Nelson Motta - 1990), encomendado pela TV francesa pela comemoração dos 25 anos da carreira de Chico , faz a retrospectiva do momento politico do Brasil através de sua obra;

8) Chico: Artista Brasileiro (Miguel Faria Jr - 2015), pelas versões belíssimas das músicas selecionadas e pela descontração e proximidade ao lado mais pessoal de Chico. Um deleite!

Chico, como poucos, consegue imprimir com a precisão de suas palavras as lentes precisas que o cinema exige.  E, assim, contribuir com o conhecimento e entendimento cristalino  da história e dos comportamentos sociais.

Como bem disse Caetano Veloso: "Chico está em tudo. Tudo está na dicção límpida de Chico. Quando o mundo se apaixonar pelo que ele faz, terá finalmente visto o Brasil."






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