segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Tia Guanahyra.


Aniversário de 75 anos - Fraga, Beth, Ieda, Cristina, Guana e Maria Alice


Tia Guanahyra era a 7ª dos 10 filhos dos meus avós maternos e a caçula das meninas. Não me perguntem de onde tiraram esse nome! Nunca conheci ou ouvi falar de outra Guanahyra no mundo!

Tia Guana tinha apenas 14 anos quando os meus pais se casaram e, junto com mais 2 irmãos menores, veio morar com eles para aliviar um pouco a minha avó, já viúva e com dificuldades para criar tantos filhos. Nada mais natural do que tornar-se madrinha da minha irmã mais velha! Foi a  tia de maior referência na nossa infância!

Mudamos para Belo Horizonte assim que eu nasci. Como ela já namorava o tio Abelardo, voltou para a casa da minha avó até o casamento. Meu pai entrou com ela na igreja como se fosse uma filha. E acho, mesmo, que ela sempre foi mais filha do que irmã da minha mãe.

Casamento com tio Abelardo


Tio Abelardo foi um presente nas nossas vidas! Não havia tio mais amoroso e engraçado! E eu tive o privilégio de tê-lo para padrinho de batismo! Entre tantos sobrinhos que disputavam sua atenção, sentia-me especial. Com o tio Abelardo, ganhamos mais uma família. Seu Astor, o seu pai, era o avô que já não tínhamos. Gordo, bonachão e tão carinhoso! D.Ida, sua mãe, era a pessoa mais magra que eu conheci. E ele tinha um monte de irmãs, que tornaram-se amigas e tias emprestadas. A gente adorava ficar na casa da tia quando íamos de férias ao Rio! Sentíamos verdadeiramente em casa!

Tio Abelardo e tia Guana iam sempre a Belo Horizonte nos visitar. Morávamos na Rua Ramalhete, no bairro da Serra, imortalizada na canção de Tavito. Uma rua e seus ramalhetes. Era uma rua de apenas um quarteirão, mas com um monte de crianças! Quando eles chegavam, era uma festa! Tio Abelardo sempre inventava alguma coisa e a gente aproveitava! A maior das aventuras foi um dia que ele combinou um passeio até o pé das montanhas no final do bairro. Éramos 15 crianças ao todo, entre os meus irmãos e os nossos amigos da rua. Eu não me lembro ao certo quantos anos eu tinha, mas sei que era bem pequena, talvez cinco ou seis anos. Andamos, andamos, andamos e andamos mais e o dia foi passando, passando, e acabamos chegando, já à noite, em Nova Lima, um outro município!! Lembro vagamente desse dia... Mas lembro de estar exausta e o tio coordenar com os meninos a confecção de uma padiola para me transportarem. Lembro desse nome até hoje. Padiola. Fato é que fui carregada como uma princesa por quase todo o trajeto! Quando chegamos em Nova Lima, o tio ligou  da delegacia para a casa dos meus pais. A rua estava em polvorosa, as mães desesperadas, rezando novenas, os pais se organizando para  irem atrás de nós. Um rebuliço!  Achavam que algo muito sério tinha acontecido. Foram nos buscar tarde da noite em comitiva. O tio levou a maior espinafração da face da terra!! Dos pais, das mães e, principalmente, da tia!  Mas nós, as crianças, nunca fomos tão felizes! Essa aventura marcou tanto a nossa infância que era lembrada sistematicamente e citada, inclusive, em livro escrito sobre o bairro da Serra.

Tio Abelardo virou estrela quando eu tinha apenas 10 anos. Foi uma enorme comoção entre os nossos amigos da Rua Ramalhete. Uma perda que sinto até hoje...

Estávamos de mudança de volta para o Rio e a tia Guana viveu o seu luto conosco. Passava temporadas na nossa casa e minha mãe e meu pai davam-lhe o colo que ela precisava.

Tia Guana e tio Abelardo, após algumas tentativas frustradas, tiveram a sua única filha: Márcia. Meu irmão era o seu padrinho. Marcinha era um ano mais nova que a Andréa e tinha a maior coleção de bonecas que se possa imaginar! Eu amava passar os dias na casa da tia brincando com as bonecas da Marcinha! Marcinha era gordinha, bem gordinha, e a obesidade aumentava conforme ela crescia. Uma pena... Ela tinha o rosto lindo e era uma menina alegre e extremamente carinhosa!

Alguns anos depois, tia Guana conheceu um português: Fraga. Casaram-se. Tínhamos o pé atrás, uma certa desconfiança com aquele que veio ocupar o lugar do nosso tio querido. Essa resistência foi rapidamente desfeita, pois o Fraga nos adotou com o coração aberto! E ele fez a minha tia tão feliz! Um grande companheiro e um pai dedicado pra Marcinha! Um homem suave, inteligente, adaptável. Braços sempre abertos! E a tia Guana retomou a vida plena que ela tanto merecia.


Guana, Fraga e Marcinha


Tia Guana era alegre, alto astral, vaidosa, muito sociável,  intrometida, comprava brigas com o que acreditava. Sempre foi uma tia presente, amorosa e interessada. Adorava receber e cozinhava muito bem! Mas teve uma vida difícil e de muitas perdas.

Marcinha virou estrela em 2012,  por complicações que a obesidade lhe causou ao longo dos anos. Foi muito chocante, para todos nós, absorver a perda da nossa prima.

Fraga virou estrela em seguida. E a tia se viu sem o seu companheiro e sem a sua única filha. Muito difícil.

Sua saúde deteriorou. Passou a viver no seu mundinho e com poucas conexões com a realidade. Mas continuava alegre e leve! Adotou um cachorrinho de pelúcia como verdadeiro e o levava para todos os lugares. Quando descia no playground do prédio, a  criançada todo vinha ver o "cachorro".  E ela ficava feliz quando tratavam bem o seu cachorrinho...

Minha irmã mais velha ia vê-la  todos os dias. Chegava depois do trabalho e assistiam juntas a novela das 6. A tia ria, brigava com os vilões, se metia nos diálogos. No seu mundinho à parte... Meu primo William também ia sempre visitá-la e minha prima Dunga almoçava com ela toda semana.

Ontem à noite, em pleno domingo de carnaval, tia Guanahyra virou estrela. Quando minhas irmãs chegaram, ela já tinha partido.

Sensação estranha... Tristeza por perder a nossa tia tão querida... Alívio por ela ter partido sem dor. E uma felicidade doce por ela ir ao encontro dos amores de sua vida.

Que Marcinha, tio Abelardo e Fraga a recebam com amor e conforto.

E que o céu se prepare pois, com esse nome e essa personalidade, vai causar!!

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